Da Assinatura das Coisas – 15.3. O Cristianismo Falso e o Verdadeiro
- O verdadeiro pastor é aquele que entra pela porta de Cristo, que ensina pelo espírito de Cristo; fora disso, só há a forma histórica, que pretende ser suficiente para consolar; mas ela fica do lado de fora, porque ela não quer morrer a si própria pela graça.
- Tudo o que fala da redenção de Cristo sem ensinar a verdadeira base (que é morrer ao eu e entregar-se à obediência como uma criancinha) é exterior e não vem da porta de Cristo.
- Não são as consolações hipócritas que servem para qualquer coisa, é morrer com Cristo à vontade falsa, é matar incessantemente o eu terrestre e extinguir o mal que está semeado no ar.
- A verdadeira fé não é falar de Cristo, isso é apenas exterior; é preciso uma vontade convertida, que rejeite o mal, que se afaste dos desejos terrestres, que se afunde em Deus, que não queira sair da morte de Cristo que clama sempre: "Caro Pai, aceita por mim a obediência do Teu Filho, faz com que eu viva na Sua morte, que eu viva em Ti pela Sua humanidade, leva-me com Ele na Sua ressurreição, dá-me a Sua vida, que os Seus sofrimentos sejam meus, que eu tome a Sua força na morte e que eu seja diante de Ti como um broto da árvore que Ele é!”
- Tal é a verdadeira fé; o seu desejo alcança os sofrimentos de Cristo, prostra-se diante d'Ele, afunda-se na maior humildade, suporta tudo para receber a graça, toma a cruz e despreza a troça do egoísmo universal.
- Este desejo cresce da morte de Cristo; floresce na sua ressurreição e produz, com paciência, frutos escondidos em Deus, e que o ser humano exterior não apercebe.
- O verdadeiro cristão é um cavaleiro imitador de Cristo na terra. Jesus venceu a morte e introduziu a vontade humana na verdadeira obediência: isto é o que o verdadeiro cristão também deseja.
- Portanto, caros irmãos, acautelai-vos com o manto de púrpura; sem abandono, sem arrependimento, sem conversão, esse manto será apenas motivo de chacota; tenham cuidado com os ensinamentos pessoais e as obras de justificação particular.
- O verdadeiro cristão é, ele próprio, a Grande Obra que opera incessantemente na vontade de Deus, contra o desejo pessoal, apesar de ser muitas vezes frustrado pelo eu; mas ele quebra-o e verdeja como uma bela flor no Espírito divino.
- A cristandade tem que saber e compreender bem que, se quiser sair das vãs consolações, sem mudar a sua vontade, terá apenas uma forma exterior de regeneração. Um cristão tem que ser um espírito único com Cristo, nem a forma nem as boas palavras o ajudam, mas apenas a morte da má vontade; a ciência também não serve para nada; a sutileza das discussões é apenas um impedimento: o pastor está tão próximo de Deus quanto o doutor.
- A verdadeira vontade entra no Amor, ela não busca a forma, mas ela cai aos pés do seu Criador e pede a morte do eu; procura a obra do Amor contra todos, só quer florescer em Deus; toda a sua vida não passa de penitência e arrependimento, ela não busca o brilho, mas a humildade; ela considera-se indigna e o seu cristianismo está escondido dentro de si mesma.
- Ela diz: “Sou uma serva inútil e ainda não comecei seriamente a fazer penitência. Ela procura a porta da graça, como uma mulher nas dores do parto. O Senhor esconde-se dela para que a sua operação cresça; ela semeia com lágrimas e não vê os frutos que estão escondidos em Deus; ela corre para a meta como uma mensageira, mas não encontra descanso até que veja a pérola; e quando esta se apaga diante do eu, a aflição da alma recomeça, ela pede dia e noite, e só cessa quando as trevas desaparecem com os primeiros raios do sol nascente.
- Acautelai-vos portanto, caros irmãos, com as discussões eruditas; o verdadeiro cristão está morto aos desejos do seu entendimento, ele só busca a ciência do Amor e da graça; o próprio Cristo construirá a forma em Si; a forma exterior é apenas uma introdução, Deus tem que se tornar ser humano, caso contrário o ser humano não se pode tornar Deus.
- É por isso que um cristão é o ser humano mais simples do mundo, como diz Isaías (42,19). Todos os pagãos cobiçam a propriedade e correm para o poder e para as honras; mas um cristão só pede para morrer a isso, ele busca apenas a honra de Cristo. Tudo o que se disputa pelos prazeres da vida é pagão e mais do que pagão, é diabólico; o que saiu de Deus, para entrar no egoísmo, cobrindo-se com o manto de Cristo, é o ser humano da falsidade.
- Se ele quer ser um cristão, tem que morrer a este eu, e despojar-se das vestes deste mundo, onde ele não é mais que um peregrino; tem que se lembrar que é o servo de Deus e não de si mesmo. Tudo o que age por si mesmo, sem a ordem de Deus, pertence ao diabo e serve-o; adorna-te como quiseres, não vales nada diante de Deus, a tua grandeza não serve de nada diante d'Ele; tu és para ti próprio o teu próprio julgamento, que te conduz à morte; mesmo que fosses rei, não passas dum servo e tens que passar com os mais miseráveis, pela regeneração, sem a qual não verás Deus.
- Todo poder próprio, pelo qual os pobres são oprimidos, pertence ao egoísmo e nasce da forma pronunciada que se particularizou e saiu de Deus. Tudo o que não serve Deus é falso, quer seja alto ou baixo, sábio ou ignorante; nós somos todos servos de Deus; nada se torna algo pessoal, que não nasça pela Cólera de Deus na impressão da Natureza.
- Se um cristão possui qualquer coisa de verdadeiro em si mesmo, não deixa de ser senão um intendente do Senhor; tudo aquilo que ele quisesse relacionar ao egoísmo, o conduziria à prisão da avareza, da inveja, da carne, e o faria extorquir os bens que Deus lhe confiou para gerir.
- O verdadeiro cristão não tem nada de próprio; quer procure, quer plante, quer construa, quer faça aquilo que quer, deve saber que é a Deus que ele o faz, e que é a Ele que tem que prestar contas disso; se ele se preocupa com o que os seus companheiros andam a fazer, nos prazeres deste mundo, ele ainda está longe do reino de Deus, não se pode chamar em consciência de cristão, ainda está apenas na forma do cristianismo e não no Espírito de Cristo; a forma desaparecerá com o tempo, somente o Espírito permanecerá eternamente.
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