Da Assinatura das Coisas – 15.1. Da Dupla Vontade
CAPÍTULO DÉCIMO QUINTO
DA VONTADE DO GRANDE MISTÉRIO SEGUNDO O BEM E SEGUNDO O MAL, DE ONDE VEM A BOA E A MÁ VONTADE E COMO SE INFLUENCIAM MUTUAMENTE
Resumo: — Da dupla vontade agindo no ser humano — A regeneração — O cristianismo falso e o verdadeiro — O espírito e a letra — Do valor real do ser humano — O seu papel aqui em baixo — O julgamento — A reintegração universal
- Toda a propriedade provém do Grande Mistério que é o desejo em direção à Natureza; ela emerge dele como o ar é exalado do fogo; o esplendor duma vontade é inconsistente, porque não tem qualidade; o primeiro princípio permanece em si, e sai sob a forma de vontade.
- Nesta via da eternidade, não há ruptura, porque todas as coisas permanecem lá em si mesmas; quando a forma do Grande Mistério se manifesta, perpetua-se com a sua raiz na eternidade.
- Mas logo que ela se introduz noutro desejo, essas duas propriedades produzem a luta; na eternidade só há o Elemento um e o desejo livre cujo tremor é o espírito de Deus.
- Mas quando o Grande Mistério se move e o desejo cobiça a essência, começa o combate; os quatro elementos nascem com os seus múltiplos desejos de governar um só corpo: daí o quente e o frio, o fogo e a água, o ar e a terra que são a morte um do outro.
- A criatura submetida a este regime só encontra nele uma agonia perpétua, a não ser que retome uma vontade única; mas então a multiplicidade das vontades tem que desaparecer e a avidez tem que morrer, de onde vieram os elementos, para que a vontade volte a ser o que ela era na eternidade.
- Reconheçamos que nós mesmos estamos sob o regime dos quatro elementos na luta, na contrariedade, no desgosto, no desejo da morte, sendo inimigos de nós próprios. Se a vontade, que Deus soprou através do seu espírito à sua imagem, desde o mistério eterno, desejar reaparecer, ela tem que morrer aos quatro elementos para retornar àquele Elemento um de onde veio; ela tem que aceitar a herança eterna para a qual foi criada; tudo o que vive na vontade de Deus não vem da avidez própria, ou nela está morta, se proveio dela.
- Toda a vontade que reentra no seu eu e que busca a base da sua vida, arranca-se do Grande Mistério e ataca-o; a criança é má porque desobedece à sua mãe, mas se mudar e realizar os desejos dela, nada poderá fazê-la cair na turba, e retornará à essência de onde veio.
- Compreende, ó ser humano, aquilo que tens de fazer, contempla em ti mesmo aquilo que tu és, se cumpres a vontade da tua mãe; caso contrário, tu és uma criança rebelde que se tornou no seu próprio inimigo; tu não podes mais habitar a não ser dentro de ti; o que te deixa doente, és tu próprio que estás a cometer suicídio.
- Tu tens que abandonar a tua própria avidez, tornares-te para ela como um nada, dirigir todos os teus desejos para o Eterno, e para a vontade de Deus pelo abandono; para além disso, tudo é vaidade, dor e agonia perpétuas.
- A escolha da graça baseia-se na vontade humana; se esta está disposta a morrer a si mesma, a sua primeira mãe elege-a, adota-a e une-a à vontade divina; mas quem permanece no eu, permanece no pecado, porque é inimigo de Deus.
- Ele não consegue realizar nada de bom no exterior, porque, dentro, ele só realiza a morte; daí também vem a mentira, porque a criatura nega a unidade divina e coloca-se no lugar dela; se ela reconhecesse a essência universal como sendo a sua mãe, se não se apropriasse dela, não produziria a avareza, o ciúme ou o ódio.
- Todos os pecados vêm do eu; ele quer atrair tudo para si e faz-se inimigo de toda a essência estrangeira; de forma que o pecado luta contra o pecado, a repulsa contra a repulsa, em abominação diante da Mãe eterna.
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