Da Assinatura das Coisas – 14.5. A Repugnância

  1. Tal é o objetivo da eleição da graça, da qual a Escritura diz que Deus reconhece os seus: a vontade de Deus compreende a vontade que nasce na matriz tenebrosa e a reconduz, pela morte no fogo, ao Elemento um.
  2. No rebentamento do Salitre, se a vontade retrocede, ela torna-se terrestre neste mundo, e cai na cólera divina no mundo eterno; ela só poderá ver Deus se, convertendo-se, morrer inteiramente ao seu eu pelo fogo, e retornar pelo abandono ao Elemento um ou corporalidade celeste, da qual ela se alimentará: ela não terá mais nenhum outro desejo, porque ela terá morrido à fome má tenebrosa.
  3. A luz nasce desta morte ígnea, porque a liberdade acende-se nela e tem fome do Amor. Exteriormente, é a luz do Sol segundo os elementos; é o amor animal segundo a essência sulfurosa, da qual provém a reprodução e a vida vegetativa; a ação do Mercúrio no Salitre produz a vida sensorial à qual as estrelas dão o entendimento segundo as propriedades do Salitre.
  4. Toda a constelação é um Salitre do fiat capturado no movimento da essência de todas as essências, no momento do relâmpago ígneo, sob a propriedade salina; todas as forças elementares estão aí; ela infunde-se nos quatro elementos como um sal salnítrico, e faz o seu desejo passar por intermédio deles para os corpos, como pode ser visto pela observação do reino vegetal.
  5. O segundo centro, a luz que sai da agonia do fogo, faz passar a liberdade abissal para a base da Natureza, tanto para o reino interior da eternidade como para o reino exterior do tempo.
  6. Esse centro, que também possui as propriedades do desejo, nasce do primeiro princípio; ele não é propriamente a morte ígnea; é a essência tenebrosa que morre, o espírito sai dela para a luz com a vontade eterna, por uma transmutação que excita um apetite de liberdade, um desejo de Amor.
  7. Na alma do ser humano este centro atrai o elemento divino ou Salitre celeste e com ele os sais ou poderes divinos. No mundo exterior, ele gera o óleo do Enxofre que alimenta a chama da vida mineral ou vegetal.
  8. O sol realiza a transmutação exterior e o sol divino a interior, segundo o grau de cada coisa, a sua fome apodera-se de tal ou tal propriedade temporal ou eterna.
  9. A fome eterna alimenta-se da eternidade, a fome temporal alimenta-se do tempo; a verdadeira vida das criaturas é nutrida pelo Mercúrio espiritual ou sexta forma, onde estão em essência todos os sais; o espírito alimenta-se dos cinco sentidos que são o seu corpo; a vida vegetativa alimenta-se do Enxofre e do Sal; porque Cristo disse: "O ser humano não se alimenta só de pão, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus."
  10. A sexta forma é o verbo espiritual pronunciado; ela contém o verbo espiritual pronunciador; na impressão tenebrosa, é o verbo da cólera divina; no mundo exterior é o Mercúrio venenoso, causa da vida e da sonoridade; o espírito do Mercúrio e o espírito do Enxofre não são duas coisas distintas, mas duas propriedades.
  11. O que nasce de um único princípio só tem um regime, mas duas tendências: para o bem e para o mal. O que sai de dois princípios, como o ser humano, tem dois apetites e dois regimes, um do centro exterior, o outro do centro tenebroso; mas se o ser humano morrer para si mesmo e tender para o reino de Deus, a sua alma poderá alimentar-se do Mercúrio divino (os cinco sentidos de Deus e o Elemento um). No entanto, o ser humano exterior neste mundo só o poderá fazer pela imaginação; o corpo interior penetrará no corpo exterior, tal como quando o sol brilha na água, esta permanece sempre a mesma.
  12. Porque antes da queda, o Elemento um penetrava nos outros quatro e governava no ser humano; mas a maldição separou-o na alma.
  13. E a alma está encerrada dentro dos quatro elementos, até que morra à vontade terrestre para reverdejar no um.
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