Da Assinatura das Coisas – 14.4. O Elemento Um

  1. No rebentamento do Salitre, nascem muitos sais; o movimento do Ser dos seres corporizou as qualidades do espírito, tornou-as visíveis, concebíveis.
  2. Essa rebentamento ocorre quando o fogo é aceso; também se imprime quando o fogo morre, no nascimento da água; esta água contém muito fogo, mas a sua essência morta é da mesma qualidade que o rebentamento; ela circunscreve todas as qualidades e recebe tanto as da luz como as das trevas, torna-as todas ígneas, segundo o frio ou segundo o calor, mas sobretudo segundo o Mercúrio indefinido que é a vida universal, no bem e no mal.
  3. O Salitre é o princípio de todos os sais que se encontram nas plantas, nas árvores e nas criaturas, em todos os lugares onde haja cheiro e sabor: aí, ele é a primeira raiz. Nas coisas boas que fazem crescer o amor no óleo do Enxofre, ele é bom, amável e poderoso; nas coisas más pela angústia sulfurosa, ele é mau; nas trevas, ele é o pavor perpétuo, que procura fugir para fora do fogo; daí vem a vontade diabólica e o orgulho que são os únicos que escapam ao humilde desejo do amor. O fogo é a sua prova, como se vê no relâmpago onde ele se consome com a rapidez do pensamento; porque a sua essência não vem do eterno, mas da combustão do fogo temporal; ele é perceptível no espírito eterno por causa da exaltação do reino da alegria; na agonia ele encontra-se no fogo, porque ele nasce da primeira avidez, da primeira impressão; é o Saturno dos sábios; é por isso que ele tem uma grande quantidade de sais.
  4. Todos os sabores são salinos; os bons sabores nascem dum sal oleoso, assim como os bons odores que são a sua exalação onde a Tintura1 aparece como cor.
  5. O rebentamento do Salitre é a divisão das propriedades em morte e em vida: a vida toma uma essência pelo Amor, e quando o rebentamento agoniza pelo congelamento, o seu desvanecimento dá a densidade; a sua sutileza dá a água, a sua grosseria dá a terra, o Enxofre e o Mercúrio produzem aí a areia e as pedras, a sutileza desse Enxofre e desse Mercúrio dá a carne, e a angústia tenebrosa deposita uma fuligem; a qualidade oleosa segundo o Amor produz uma essência dotada cujo espírito é a fragrância agradável; a reação do fogo e da água produz o Elemento, e o brilho da luz faz a nobre Tintura, que em todos os sais oleosos dá o bom gosto e o bom odor.
  6. O rebentamento salnítrico é, na essência, o borbulhar do qual resulta o crescimento; a sua impressão, ou o Sal, é o conglomerado que corporifica as essências, o que retém juntos o Enxofre e o Mercúrio.
  7. Estes três estão em todas as coisas; o Salitre divide em quatro o Elemento um que é, em si mesmo, apenas um movimento cheio de vida nos corpos. Assim como o espírito eterno de Deus Pai sai do fogo e da luz como movimento vital da eternidade, assim o espírito aéreo sai do brilho salnítrico da angústia sulfurosa em direção à roda mercuriana, que faz girar todas as formas; é o filho e a vida dessas qualidades; o fogo delas dá-lhe a vida e tira-lhe a vida; a água é o seu corpo pelo qual ele produz o borbulhar, e a terra é a sua força na qual ele se acende.
  8. Essa combustão do Elemento um no Salitre produz quatro partes: o fogo consumidor tenebroso e o frio que vem da morte a quando do rebentamento; a escuridão divide-se ainda mais na sua sutileza, em água, na sua grosseria, em terra, na sua mobilidade, em ar; este último é o mais semelhante ao Elemento um, apesar deste não ser nem frio nem quente, nem impulsivo, mas borbulhante.

Do desejo das propriedades

  1. A propriedade é uma fome que se apodera de si mesma e que forma uma essência semelhante a si mesma e produz nos quatro elementos um espírito análogo pelo borbulhar salnítrico. O Elemento um é o princípio do borbulhar, é o Salitre que o divide em quatro.
  2. Todos os corpos, pela sua vida interior, residem no Elemento e pelo seu crescimento nos quatro; mas os espíritos elevados, os anjos e as almas dos seres humanos vivem só pelo Elemento um, porque eles vêm do primeiro princípio. No terceiro princípio, o Elemento um conduz secretamente, como a mão de Deus, os quatro elementos por meio dos quais ele opera e edifica.
  3. Cada propriedade busca nos quatro um alimento adequado à sua fome, cada espírito se nutre do seu corpo e os quatro são o corpo das propriedades. Alimentam-se primeiro da impressão tenebrosa e amarga, depois da impressão luminosa, do mal e do bem.
  4. A fome tenebrosa procura as coisas terrestres; a fome amarga extrai venenos picantes dos elementos; a fome da angústia busca a angústia no Enxofre, a melancolia, a tristeza, o desejo da morte; o fogo toma a cólera, o orgulho, a dominação, a devastação; a amargura vai em direção à inveja e ao ódio; a dureza vai em direção à avareza e o fogo vai em direção à fúria.
  5. Tal é o verdadeiro desejo dos demónios e de tudo o que é contra Deus e contra o Amor; isto pode ser visto nas criaturas e nas plantas.
  6. O relâmpago ígneo do primeiro desejo é a finalidade da natureza tenebrosa; ele dirige-se em direção ao fogo que consome a grosseria da primeira forma e lança-a na morte; lá, ela separa-se em duas vontades: uma é escura e retorna à morte, foi assim que fizeram os demónios quando, querendo dominar no lampejo do borbulhar salnítrico sobre o tempo e sobre a eternidade, o espírito de Deus os repeliu e os expulsou do Amor; isto é o que acontece aos seres humanos ímpios.

Notas

  1. Física: tudo isso até §46 diz respeito à constituição do mineral. [  ]
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