Da Assinatura das Coisas – 14.3. A Fome de Cada Propriedade

  1. A liberdade, que é Deus, é a causa da luz, e a impressão é a causa das trevas e da dor. Esses dois princípios são eternos e habitam cada um em si.
  2. É assim que eles se abrem e se manifestam em sete propriedades. Não há começo na eternidade, mas esta geração é perpétua; ela opera pelo seu próprio desejo, até este mundo visível que é uma imagem temporal do espírito eterno.
  3. Quanto ao fogo, ele é o princípio de toda a vida; ele dá a essência às trevas; sem ele, elas não conteriam inimizade, nem espírito, mas apenas dureza e um aguilhão agudo, rude e amargo, como se vê na noite eterna. Tão longe quanto pode alcançar o fogo ardente, a propriedade escura exalta a sua essência, como uma loucura terrível: nós podemos reconhecer aqui o que é a Sabedoria e a insanidade. O fogo também produz a luz, como desejo da liberdade.
  4. Esta liberdade, enquanto ela é um nada, não possui essência; é a impressão severa que produz a essência; o espírito da vontade livre apodera-se dessa essência, manifesta-se em si pela avidez e atravessa o fogo, enquanto que a grosseria morre ali.
  5. Quando o relâmpago ígneo atinge a essência escura, produz-se um grande crepitar onde o fogo frio morre e se afunda. Isto ocorre quando o fogo é aceso na angústia; por um lado, a essência afunda-se na morte onde o fogo frio agoniza, daí vem a água e a terra; por outro lado, essa essência dirige-se para a liberdade e eleva o brilho do reino da alegria.
  6. Quando o relâmpago se produz entre a liberdade e o fogo frio, eles formam uma cruz e circunscrevem todas as propriedades, exalando o espírito na essência (isto é representado pelo signo astronómico da terra ♁). Se tu fores inteligente, tu não perguntarás mais o que é a eternidade e o tempo, o amor e a cólera, o céu e o inferno. O semicírculo inferior é o primeiro princípio, a Natureza eterna na cólera, o reino das trevas. O semicírculo superior com a cruz é o salitre. A cruz é o reino da glória manifestado pelo esplendor da liberdade saindo do fogo; o espírito aquoso, que se eleva com ela, é a corporalidade do livre desejo no qual o brilho combinado do fogo e da luz forma uma tintura, um verdejar, um crescimento e uma manifestação de cores.
  7. Esta separação da essência viva e da essência morta é a quinta forma, o Amor. O seu princípio é a liberdade que se eleva como uma chama na exaltação do reino da alegria; ela imprime, nas propriedades que recebeu da vontade eterna, atravessando o jogo, o seu desejo de amor: assim, a alegria sai da angústia.
  8. Sem a angústia, não se poderia saber o que é a alegria; nesta forma, as propriedades dividem-se em cinco: a água do Amor impregna-se da tintura: é a visão. O aguilhão que trespassa a dureza produz a audição que se torna num som que apreende a tintura no nada pacífico e livre. A acuidade da fúria produz o tato que faz com que as propriedades se apercebam umas às outras; a reação mútua das propriedades, pela qual elas se modificam, dá o gosto, e o espírito que elas exalam, ao saírem uma em direção à outra, dá o cheiro.
  9. Estas cinco qualidades, compreendidas na quinta forma, constituem a sexta forma, esta é o som no qual elas estão todas envolvidas pelo espírito aquoso do desejo ígneo da luz. Este desejo forma para si uma essência na qual ele opera e que é a sétima forma, habitáculo das outras seis, da qual proveio o regime deste mundo visível, à imagem da geração eterna.
  10. Tudo isto não é a divindade, mas a sua manifestação, que se reconhece no ternário. A divindade é o abismo livre, sem fundo, fora de toda a natureza; mas ela própria manifesta-se num fundo pelo milagre da sua Sabedoria.
  11. O Pai manifesta-se pelo fogo, o Filho pela luz do fogo, e o Espírito Santo pela vida e pelo movimento que sai do fogo, como uma chama de amor: nós só dizemos isto de uma forma simbólica e criatural.
  12. A divindade é universalmente tudo em todos, mas somente segundo a luz do amor; segundo o espírito da alegria, ela chama-se Deus; segundo a impressão tenebrosa, ela chama-se Cólera divina e, segundo o espírito eterno ígneo, ela chama-se um fogo consumidor. Tudo isto diz respeito ao Ser dos seres, cujo princípio é um, mas cuja manifestação é múltipla para a sua maior glória. Nós queremos mostrar-vos o que é a vida criatural segundo essa essência universal.
  13. O Enxofre, o Mercúrio e o Sal são espírito na eternidade; quando Deus moveu a Natureza eterna, Ele extraiu da essência espiritual uma essência manifesta, e colocou na criação as propriedades eternas. Eu só me refiro ao reino exterior ou terceiro princípio; neste mundo, a luz e as trevas estão misturadas; Deus comissionou o Sol como deus das forças exteriores, mas é ele quem o governa; o externo é a Sua obra, que Ele governa pela harmonia, como o mestre faz o seu trabalho por meio das suas ferramentas.
  14. Neste mundo, o Enxofre representa o mistério da manifestação divina, da primeira mãe, porque ele procede das trevas, do fogo e da luz; ele é, por um lado, amargo, segundo a impressão; e por outro, como imagem da Divindade, fogo, luz e água; ele separa-se no fogo em duas formas: em água, segundo a agonia, e em óleo, segundo a vida, que é a verdadeira vida das criaturas físicas.
  15. Mercúrio é a roda do movimento no Enxofre; segundo a impressão, ele é o grande agitador, o assediador; o fogo sulfuroso da sua mãe divide-o numa água dupla: um regime de alegria luminosa que, combinando-se com o Enxofre, produz a prata na sétima forma da Natureza; — no fogo, esta água torna-se no Mercúrio metálico; na aspereza, é uma fuligem ou uma fumaça. É por isso que, se a matéria aquosa exterior do Mercúrio é colocada sobre o fogo, ela escapa-se como um fumo, porque o fogo restitui cada coisa à primeira essência de onde ela veio, onde tudo era um só espírito. Mas, por outro lado, conforme a sua qualidade recebida na aspereza e na angústia, a água de Mercúrio será o veneno do qual se alimentarão as trevas. Na verdade, esta água não será mais uma água, será o corpo do espírito. No fogo, a água torna-se no corpo que antes era no espírito.
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