Da Assinatura das Coisas – 14.2. O Mineral
- Consideremos cuidadosamente esta roda sulfurosa de todos os seres cujas qualidades entram no bem e no mal e deles saem.
- A primeira forma, a impressão, também chamada fiat, apreende o desejo nas sete formas, de modo que do nada surge uma essência análoga à propriedade. A sua qualidade primeira própria, enquanto avidez, é sombria e produz um choque, causa do som que se endurece ainda mais na quarta forma; a sua grosseria morre ali, para ser recapturada na quinta forma, de onde ela sai como sexta, fora do fogo e da água.
- Este som chama-se Mercúrio na primeira forma por causa da atração em si que produz o movimento e o aguilhão; esta é a segunda forma, filha da primeira e residindo nela.
- Esta segunda forma é o delírio e a dor da amargura que conglomera a avidez numa essência; nesta essência, a atração é como um aguilhão que a dureza não consegue suportar; ela exalta-se em querer conter esse aguilhão que só se torna mais picante; daí surge a primeira inimizade; essas duas formas, que são uma só, lutam uma contra a outra e sem isso não haveria nem essência, nem corpo, nem espírito, nem manifestação do abismo.
- Como a amargura não consegue dominar e como a aspereza não consegue contê-la, elas agridem-se mutuamente como uma roda turbilhonante, numa essência terrível, mas mantendo cada uma a sua propriedade: assim é produzida a terceira forma, a grande angústia, de quem a vontade primitiva pede para sair para retornar ao repouso eterno, na liberdade, no nada. Aqui, a vontade manifestou-se a si própria e não consegue nem ceder nem fugir.
- Esta angústia é a mãe do Enxofre, porque o aguilhão atormenta-a e a dureza imprime-a. É uma agonia mas, no entanto, é a mãe da existência. Ela possui duas propriedades; segundo a impressão, ela é escura e dura, e segundo o desejo, que tende para a liberdade, ela é espiritual e luminosa; o aguilhão quebra a essência que a dureza forma nela, é por isso que ela é quebradiça e variada como um relâmpago.
- O ser destas três formas é um espírito furioso, a avidez imprime-as e faz essências a partir delas. Segundo a primeira, o grande movimento inicial torna-se na terra; segundo a segunda, a essência é uma paixão que torna a matéria amarga; e segundo a terceira, é um espírito sulfuroso, que ainda não é um ser mas que, no entanto, é o pai de todos os seres.
- A quarta forma nasce, por um lado, da impressão tenebrosa e do aguilhão da angústia: é o jogo escuro e o tormento do grande frio. Ela nasce, por outro lado, da vontade em direção à Natureza, que sai desse frio e volta a si mesma para a liberdade; a sua acuidade acende o desejo livre eterno, que ela recebeu na impressão; é por isso que ela é uma aparência movediça e móvel.
- A liberdade não é nem escura nem luminosa; o movimento torna-a luminosa, porque o seu desejo concentra-se em manifestar-se no esplendor. Isto só pode acontecer pela ação das trevas que fazem com que a luz se manifeste e que a alma eterna se encontre a si própria; uma vontade é apenas uma essência, que recebe uma forma pela multiplicidade, até ao infinito; este nosso escrito é apenas o balbuciar dessas grandes maravilhas.
- A liberdade jaz nas trevas, opõe-se à avidez delas e apodera-se delas com a ajuda da vontade eterna; por sua vez, as trevas querem apoderar-se da luz livre, mas não conseguem, porque esta fecha-se em si própria e gradualmente torna-se numa treva; da reação recíproca dessas duas tendências nasce na impressão, o relâmpago ou princípio do fogo; a angústia aprisiona a liberdade aparecida na impressão como um relâmpago. Mas, como essa liberdade é inatingível, como é anterior e exterior à impressão, e como não tem base, o seu adversário não consegue retê-la, rende-se a ela e deixa que a sua essência obscura seja engolida por ela: por este movimento, a liberdade reina sobre as trevas sem ser compreendida por elas.
- O fogo é consumidor; a sua agudeza vem da impressão severa, fria e amarga na angústia: a sua propriedade combustível vem da liberdade que faz de qualquer coisa um nada. É preciso compreender que a liberdade não tende para o nada, porque o seu desejo dirige-se para a Natureza para nela se manifestar em poder e em essência. Ela apropria-se das qualidades da impressão fria, pela acuidade, depois ela queima a essência tenebrosa no fogo e sai do fogo e da angústia sob a forma de luz com as propriedades espirituais: como vemos fisicamente que a luz sai do fogo sem ter o tormento dele. A luz manifesta as propriedades das trevas em si mesma; ela permanece luminosa e as trevas permanecem na sua obscuridade.
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