Da Assinatura das Coisas – 13.6. Cura das Doenças

  1. Procuremos o que se poderia fazer ao Mercúrio da matéria quando, inflamado no frio ou no calor, gerou a doença. Seria muito útil possuir o verdadeiro remédio, mas este permanece oculto por causa da maldição da terra e dos pecados do ser humano que despertou, pelos seus excessos, o veneno no seu Mercúrio interno. Os pobres prisioneiros precisam de alívio, e visto que podemos alcançar o sublime Universal que atacaria o centro e reconduziria a roda da vida de volta à sua primeira propriedade, devemos usar o fruto da fermentação mercuriana da terra; o corpo humano tornou-se terrestre, devemos procurar nele uma concordância, um sal semelhante à combustão salina que o afeta; conforme o Enxofre arde ali no frio ou no calor, na melancolia ou na febre, se estiver calcinado ou corrompido, é preciso escolher um vegetal ou um sal análogo; para que o frio ou o calor estrangeiros, que se lhe administra, não se assuste no salitre, e, produzindo um sal mórbido, não reforce a doença.
  2. Mas não basta tomar o remédio em estado bruto, conforme o borbulhar terrestre nos oferece: assim, ele poderia não dominar a raiz do Mercúrio no Enxofre, mas, pelo contrário, excitar ainda mais a sua combustão na mesma doença.
  3. Aquilo a que tu queres que o corpo resista, livra disso o remédio de que te serves. Uma decomposição orgânica requer um Enxofre fétido como medicamento, frio ou quente. O grau ao qual o Mercúrio é aceso ou congelado, em qual das sete formas ele está, em qual dos sete sais ele queima, indicam o sal análogo que deve ser escolhido.
  4. A doença é uma fome que só quer comer aquilo que lhe é semelhante. A raiz da sua vida é a qualidade que ela recebeu na alegria, a quando da sua criação; a doença é apenas uma combustão exagerada que destruiu a harmonia; assim, a raiz deseja a harmonia que a combustão a fez perder; se essa combustão é mais forte que a Natureza, ela tem que ser aplacada dando-lhe o seu semelhante.
  5. Mas como Deus nos cura pelo seu amor e restaura a saúde às nossas almas que ardem no Mercúrio venenoso da Sua Cólera, esse remédio semelhante tem primeiro que ser purificado, afastado da roda mercuriana e aliviado do calor e do frio, sem ser separado dele, o que não seria útil. Assim introduzido na sua mais alta alegria, ele determina no corpo doente, no Mercúrio do Enxofre e do Sal, uma propriedade análoga; a raiz da vida repousa ali, eleva o seu desejo primitivo, e assim desaparece a fome da combustão.
  6. O médico tem que saber como levar o seu medicamento à harmonia, sem lhe infundir uma propriedade estrangeira; isto assemelha-se ao modo da vida humano; para que ele retorne à sua posição, é preciso saber como ele era originalmente na sua mãe, porque nenhuma coisa pode elevar-se mais alto do que o centro oculto do qual ela foi gerada.
  7. Se, no entanto, queremos elevá-la mais alto, temos que dar-lhe uma nova qualidade, mas então, ela perde o seu direito natural no qual residia a sua beatitude e não consegue operar mais nada de válido.1
  8. É por isso que não há nada melhor do que deixar cada coisa na sua virtude nativa, substituindo-a como guia, pela transformação da sua qualidade colérica na alegria correspondente; a sua harmonia é então bastante poderosa, sem mais misturas. A raiz vital não busca uma multiplicidade, mas uma semelhança, para poder residir, viver e arder na sua potência particular.
  9. O Todo-Poderoso deu a todas as coisas, segundo a sua propriedade, uma perfeição fixa, porque tudo é bom, segundo o que diz Moisés (Génesis, 1,31). Mas a turba veio com a maldição, e as qualidades caíram no combate de Mercúrio; mas em todas as plantas, em tudo o que pode nascer na fermentação dos quatro elementos, está escondido um fixo; porque todas as coisas saíram do Elemento eterno, onde não há combate, nem quente, nem frio, mas uma proporção igual de todas as propriedades, num concerto de amor paradisíaco: tal era o verdejar neste mundo antes que a terra fosse amaldiçoada.
  10. As criaturas ainda encerram esse paraíso dentro delas; ele pode ser aberto pela inteligência e pela arte, e a virtude primitiva pode vencer o mal subsequente. Se os seres humanos não quisessem conservar o seu próprio poder, a misericórdia de Deus desceria até nós e abriria de novo o conceito do Paraíso.
  11. Deus deu-nos o poder de nos tornarmos seus filhos e de governarmos o mundo; porque não vencemos a maldição da terra? Ninguém deve considerar que isto é impossível; basta uma compreensão divina, que florescerá no tempo dos lírios e não no tempo de Babel, para o qual, aliás, não escrevemos.

Notas

  1. O alquimista ou o espagirista, portanto, prejudica a Natureza, em vez de aperfeiçoá-la como pretende, se não conhece a fundo a verdadeira raiz das matérias orgânicas ou inorgânicas que manipula. As essências metálicas só se aperfeiçoam lentamente, segundo a sua lei, no seio da terra; o ser humano pode apressar essa evolução, mas num grau muito pequeno, apesar do artista presunçoso acreditar no contrário. [  ]
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