Da Assinatura das Coisas – 13.5. Nascimento das Formas

  1. Mercúrio é, em todas as coisas, a vida que se move; a sua mãe é o Enxofre, onde a vida e a morte residem segundo a revolução da roda mercuriana. Há no Enxofre, fogo, luz e trevas; a impressão1 dá as trevas, o frio, a dureza e a grande angústia; dela, nasce o Mercúrio, que é o aguilhão da atração em si, a mobilidade, a inquietação; é um fogo frio e escuro, segundo a frieza da impressão; é um fogo consumidor segundo o aguilhão da angústia; é uma dor quente e fria, uma exasperação venenosa desses dois contrários, turbilhonando como uma roda; mas no entanto, ele produz o movimento, a vida; mas é preciso que ele seja libertado da angústia e conduzido, através da morte, até à alegria.
  2. Toda a doença vem do fato do Mercúrio ter queimado demais no frio ou no calor, a essência ou a carne que ele tinha atraido a si pelo seu desejo, na sua mãe o Enxofre. A terrestralidade consiste em água e em carne. A matéria bruta da terra e das rochas é apenas um Enxofre calcinado e uma água segundo a propriedade mercuriana cujo Salniter2 foi queimado no estouro do turbilhão mercuriano: todos os sais vêm de lá, assim como os maus odores e os maus gostos.
  3. Se o Mercúrio qualificasse no óleo sulfuroso, por forma a poder atravessar a impressão da morte pelo quente e pelo frio, a terra tornar-se-ia novamente num Paraíso3 e o desejo da alegria verdejaria através da angústia da impressão.
  4. Quando Deus amaldiçoou a terra, o amor retirou-se dela, a roda mercuriana foi despojada do bem que havia nela, isto é, desse desejo de amor, que nasce da liberdade eterna, que se manifesta através desta roda em frio e em calor, que sai com o fogo e que produz a luz.
  5. Este Mercúrio, maldito, permanece preso na angústia do frio e do calor, na sua mãe sulfurosa, e ali produz, no borbulhar salnítrico, sais à sua imagem, conforme o modo em que ele vive em cada lugar e em cada corpo; esses sais são os sabores das sete propriedades.
  6. Se este Mercúrio estiver muito aceso no frio, dará um sal frio, duro, corrosivo, produzindo as trevas, a melancolia e a tristeza no fogo vital; porque tal é o sal em cada coisa, tal é o brilho do seu fogo e a sua qualidade de vida.
  7. Se o Mercúrio sofreu um calor excessivo, ele consome o frio, gera uma raiva e um formigamento, segundo a impressão, que aquecem o enxofre e secam a água; a sua fome, não encontrando mais alimento, gera um sal venenoso que adoece o corpo.
  8. Mas se ele conseguir recuperar a sua identidade, tal como no começo, no centro da sua mãe o Enxofre, quando ele vem à vida com as duas Tinturas,4 masculina e feminina, ele é libertado de toda angústia e regressa à harmonia do frio e do quente. E se é verdade que os gémeos combatem entre si desde o ventre da mãe, eles só começaram depois de terem recebido a vida. Na sua aurora, a vida está na sua mais alta beatitude, porque as portas dos três Princípios estão abertas para ela em completa igualdade, mas imediatamente surge a luta entre as luzes e as trevas.

Notas

  1. A atração dura e concentrada. [  ]
  2. Salniter, ou Salitter: fisicamente é o salitre; espiritualmente é a raiz ígnea de todos os sais, tanto físicos quanto invisíveis. [  ]
  3. O jardim onde verdejam as forças celestes antes da maldição ou depois da sua anulação. [  ]
  4. Já devemos ter entendido que Boehme distingue várias Tinturas. Não é nem o Elemento puro, nem o espírito, nem o Espírito Santo, nem Deus. No mineral, ela está contida na quintessência do Enxofre; ela produz o metal e a flor. Na alma, ela é ígnea no homem e aquosa na mulher; é o corpo da alma, o sangue de Cristo, Sofia. No corpo humano, ela está escondida no sangue. Cada um dos três Princípios tem uma Tintura que tem as suas correspondências em toda a escala dos seres. Quanto mais uma criatura é venenosa, mais alta é a tintura que ela contém; mas todas as tinturas vêm duma única, que se situa entre todos os princípios e que não se pode compreender sem se ser regenerado. [  ]
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