Da Assinatura das Coisas – 13.3. O Ser Pensante

  1. O espírito que sai da ignição do óleo, como uma luz, dá origem ao entendimento e à compreensão: ele vem do Nada; era o desejo em direção à Natureza; passou por todas as propriedades desta, por intermédio do frio e do calor; apareceu na luz depois de ter sofrido a morte ígnea, e reside novamente no Nada.
  2. Ele é uma pedra de toque de todas as qualidades, porque todas o geraram; é como um nada e possui tudo; atravessa o frio e o calor e nenhum deles o agarra: vemos, com efeito, que a vida criatural habita no frio e no calor mas a vida verdadeira não é, porém, nem fria nem quente.
  3. Entende bem que, segundo a eternidade, esta geração é espiritual, mas segundo o tempo, é material; eu não posso dizer de Deus que Ele consiste em trevas ou em fogo, em ar, em água ou em terra; mas pelo seu desejo, Ele concebeu-se pelo tempo, no lugar deste mundo, numa essência à qual Ele deu qualidades por meio do Mercúrio pronunciante e por meio do Verbo pronunciado; Ele produziu formas segundo as propriedades do desejo da Natureza eterna ou Verbo fiat.
  4. O Verbo pronunciado, qualidade da Natureza eterna, é o Enxofre, contendo a sétupla roda da geração, que no espírito, conceito primitivo da Natureza, é uma constelação; ela divide-se em sete qualidades, depois em quatro elementos.
  5. Esta constelação é um caos, corpo primitivo espiritual onde tudo está escondido. A roda sétupla é o primeiro arranjo do caos, o seu corpo, o seu entendimento; este corpo, igualmente espiritual, manifesta o primeiro. O terceiro corpo será elementar, visível, perceptível e contém os outros dois.
  6. O primeiro corpo é o Verbo pronunciado do conceito eterno; ele possui a sua linguagem que é a roda mercuriana das sete formas, no Enxofre; ele profere os quatro elementos.
  7. Antes do caos,1 o desejo da eternidade no abismo concebe em si a vontade de se manifestar: é Deus. A vontade concebe um desejo: é o caos, a primeira constelação, onde reside a Natureza eterna, que, desejando por sua vez, forma-se em sete modos e assim manifesta a Sabedoria eterna, oculta no caos; o Elemento é concebido pela avidez na roda mercuriana; ele é o corpo espiritual da vida mercuriana.
  8. Tudo isto é duplo. A avidez produz, pela impressão em si mesma, as trevas onde se encontra a força poderosa da combustão da Natureza: é a dor. O desejo livre produz em si, pela combustão da avidez, a luz e o borbulhar. A luz é poder e esplendor, e o Elemento é o seu corpo ou essência espiritual; assim, a avidez ígnea é uma alegria na liberdade e um tormento nas trevas.
  9. O ser humano foi extraído de todas essas essências, à imagem de Deus. Foi criado sob o regime do Elemento; a roda mercuriana de Enxofre, que girava na luz e no desejo livre, quis ir mais longe nos quatro elementos, no centro das trevas, de onde nascem o calor e o frio. Em primeiro lugar, o seu desejo era dirigido à liberdade divina no Elemento; ele abandonou-se a Deus e o desejo livre do Amor governava-o, depois saiu dele para criar no centro da natureza uma vontade própria da qual nasceu a dor, quente e fria, adstringente e amarga, com todas as qualidades de impressão tenebrosa.
  10. A partir de então, ele caiu numa agonia eterna; o ser humano foi envenenado pela luta recíproca das formas dessa roda mercuriana. O desejo livre extinguiu-se nele, junto com o Elemento puro ou corpo divino; dele saíram os quatro elementos do sofrimento externo; a imagem de Deus foi amaldiçoada, isto é, a vontade de amor que a governava fugiu; o ser humano caiu sob o poder da Natureza; e como os quatro elementos têm um começo e um fim temporais, o corpo humano, tendo-se tornado terrestre, tem que regressar a eles e aí corromper-se.

Notas

  1. Compare com a Teogonia de Hesíodo e a dos Puranas. Veja também a teoria taoísta do "Céu" (Matgioi, The Metaphysical Way). [  ]
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