Da Assinatura das Coisas – 13.2. As Faculdades Orgânicas

  1. É necessário, portanto, que os pobres filhos de Eva saibam a causa da doença, porque nós somos os nossos próprios inimigos, porque nos torturamos. Que remédio usar para curar o nosso egoísmo e, finalmente, encontrar o descanso? Se alguém quiser procurar isto, dir-lhe-emos de onde vem o bem e o mal, a vontade dupla para um e para o outro, e como são, reciprocamente, a morte de um e do outro.
  2. Se considerarmos a vida mercuriana, veremos que ela consiste no Enxofre; este Enxofre é uma fome árida em direção à matéria, e que produz uma impressão severa; esta contém fogo e óleo nos quais arde a chama da vida. Esta impressão produz o frio; o aguilhão ou a atração em si produz o calor, de modo que cada coisa contém um fogo frio e um fogo quente; o frio é duro e escuro e o calor é luminoso; mas não haveria luz se o óleo do Enxofre não morresse na angústia ardente, como numa vela acesa.
  3. O Enxofre possui, portanto, dois mortos, dos quais nascem duas vidas. A impressão atrai, encerra, endurece, congela, petrifica e produz uma morte da essência aprisionada, apesar do espírito não ser uma morte, mas uma vida ígnea, picante, furiosa, ansiosa e fria, que é a vida das trevas, nascida com a impressão.
  4. Por outro lado, dessa mesma angústia vem o fogo quente que consome a essência produzida pela impressão fria do desejo em direção à Natureza. O combate entre o quente e o frio, portanto, perpetua-se no fogo: o frio deseja a vida segundo a sua qualidade e ao procurá-la acende-se; o calor toma-lhe a sua força e consome a sua essência, mas o espírito ígneo não pode durar se não tiver mais alimento, de modo que ele tem que morrer incessantemente na angústia; enquanto ele puder consumir a essência do frio, ele vive, continuando a ser destrutivo, e a sua ignição é o maior apetite para o ser; então ela atravessa completamente a agonia do fogo e dirige-se para o Nada. Mas ela não consegue permanecer lá, ela não pode ser um nada; o desejo deste espírito ígneo leva-o até à sua mãe, o fogo; mas como ele morreu uma vez por ele, ele tornou-se invulnerável ao calor e ao frio, ele assim sai do fogo e regressa a ele sem cessar, ele é a vida do fogo, o espírito chamado, segundo o fogo, vento moderado, por causa da sua força, e fora do fogo: ar moderado, por causa da sua suavidade.
  5. O óleo que, morrendo no fogo, lhe dá brilho é a sua verdadeira vida; porque o que sai da agonia ardente é o desejo da suavidade, nascido da vontade primitiva quando o Nada eterno se introduz num desejo.
  6. Este desejo passa através da dupla morte fria e quente para retornar à liberdade depois de se ter manifestado como princípio pelo fogo, na impressão severa; ele não se tornou nem no quente nem no frio, mas manifestou-se através deles.
  7. Visto que o desejo eterno se introduziu na Natureza, ele não pode morrer nem no frio nem no quente, dos quais ele não procede, mas no Nada. Depois de ter agonizado no fogo, ele torna-se novamente num desejo e imprime-se, porque ele adquiriu no fogo a impressão.
  8. Apesar disso, ele só pode conceber uma essência análoga a si próprio: segundo a impressão tenebrosa será a água, segundo a impressão ígnea será o óleo, e segundo a impressão fria, completamente aprisionada na dureza pela fúria, será a terra.
  9. A avidez ígnea gera perpetuamente essa água, esse óleo e esse ar e engole-os, de modo que o espírito do fogo toma uma aparência por intermédio desses três produtos, porque o Nada apenas deseja o poder e o brilho.
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