Da Assinatura das Coisas – 12.3. Relações entre Adão, Jesus e o pecador

  1. O enxofre, o mercúrio e o sal atuam nas suas propriedades, pela maldição de Deus; tudo se opera aí de acordo com a propriedade do primeiro princípio. Se Deus não tivesse criado o sol como o deus da natureza exterior, tingindo toda a vida vegetativa, seria a impressão da morte no abismo infernal.
  2. Para que uma coisa seja libertada do eu, da morte furiosa, e reintegrada no universal ou perfeição, ela tem que morrer a ela própria, no silêncio do abandono, no fim da natureza. Marte tem que perder a sua força ígnea, Mercúrio a sua vida venenosa, Saturno ser morto, para que o artista veja apenas a grande treva, então a luz aparece, conforme o que diz São João: “A luz brilha nas trevas”.
  3. As trevas não podem compreender a Luz segundo a sua vontade própria, mas no abandono, o nada irradia como a liberdade de Deus, manifestando-se a partir da morte; porque não quer, nem pode, ser um nada; não pode manifestar-se senão pelo desejo livre fixo, que também é um nada, porque não contém turba: a fome própria está morta e o desejo da liberdade eterna é a sua vida.
  4. A essência mais elevada moveu-se e tornou-se num ser visível e compreensível; ela configura-se saindo de si própria em direção ao nada, para reproduzir a mesma essência que ela era antes do tempo; mas como o Verbo fiat ainda hoje cria o ser corporal, ele produz na obra filosófica uma essência fixa e perfeita que sai da morte com uma nova vida, como Deus ressuscitou em Cristo, quando nós morremos ao eu e nos abandonamos inteiramente a Ele.
  5. Assim, quando o Mercúrio pronunciado no Enxofre de Saturno abandona a sua propriedade em Vénus, o Verbo fiat transmuta-o, segundo o desejo da liberdade. O cadáver reergue-se com um corpo novo com uma bela cor branca, mas que não pode ser facilmente reconhecida porque está velada; a matéria leva muito tempo para se resolver e quando se torna novamente desejosa, o sol eleva-se nela, segundo o Verbo fiat, no centro de Saturno, com Júpiter e Vénus e as sete formas; é uma criação nova, solar, branca e vermelha, majestosa, luminosa e ígnea.
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