Da Assinatura das Coisas – 12.2. As Operações em Nós

  1. Eu quero contar aqui como é que eu morri para o mundo em Cristo: eu sou este Cristo como um ramo é a árvore; mas como ainda vivo, pela minha individualidade exterior, eu tenho que morrer com o ser humano exterior, com Cristo, e ressuscitar com Ele. Atualmente, eu vivo em Cristo pela fé, eu agarro na sua humanidade e eu lanço-me na sua morte pela minha vontade; assim, o meu ser humano interior não vive mais segundo o eu, e abandonado em Cristo, é sepultado na Sua morte.
  2. Mas como ele ressuscitou na vontade de Deus, eu vivo na sua ressurreição; mas o meu corpo terrestre vive da vida terrestre até entrar completamente pela morte no abandono e na aniquilação, então Cristo despertá-lo-á através do meu ser humano interior. Cristo ressuscitou de entre os mortos e eu, em nome de Jesus, ressuscitarei nele, na humanidade de Adão, meu primeiro pai.
  3. O ramo corrompido pelo pecado, que eu sou, receberá, por esse nome, a seiva e o vigor; por meio daquele que é um poder segundo o meu pai Adão, a minha humanidade verdejará e dará frutos à glória de Deus. O espírito da minha vontade, que está agora na humanidade de Cristo, e que vive pelo seu Espírito, pela virtude d'Ele, dará seiva ao ramo seco, para que no último dia, ao toque das trombetas celestes, que são a voz de Cristo e a minha própria n'Ele, ele ressuscite e reverdeje no paraíso.
  4. O paraíso estará dentro de mim próprio; tudo o que Deus Pai é, todas as cores, as forças e as virtudes da sua eterna Sabedoria aparecerão em mim como Sua imagem, eu serei uma manifestação do mundo espiritual divino, um instrumento do Espírito de Deus com o qual Ele tocará com a minha própria sonoridade que será a sua assinatura; eu serei a viola do seu Verbo pronunciado, não só eu, mas todos os meus irmãos, o Espírito da sua boca nos fará vibrar.
  5. Foi para isto que Deus se fez ser humano; para que o magnífico instrumento que ele tinha construído para o seu louvor, e que não quis servir no seu concerto, seja retificado e que o canto do Amor ressoe nas suas cordas. A harmonia que se desenrola diante dele entrou em nós. Ele tornou-se no que eu sou e fez-me no que ele é; assim, eu posso dizer que, pelo meu abandono, tornei-me numa voz da sinfonia divina, eu regozijo-me nela com todos aqueles que estão ocupados, comigo, na obra eterna do louvor.
  6. Saibam, queridos companheiros que participam neste concerto espiritual, que tudo o que Jesus fez por meio de Cristo, pela sua humanidade e pela minha, ele ainda o faz hoje em vocês e em mim. Ele morreu pela minha egoidade e eu também morro à minha egoidade pela sua morte; Ele abandonou-se inteiramente ao seu Pai, e o seu Pai ressuscitou-o pelo seu Espírito, e deu-lhe uma forma real, segundo a Santíssima Trindade, pela, e com, a qual Deus julgará todas as coisas no lugar deste mundo.
  7. Deus também ressuscitou o meu espírito e a minha alma em Cristo pelo grande nome de Jesus. Assim, abandonando-me a Ele, não morrerei, porque Ele morreu por mim; a sua morte, da qual ele ressuscitou, tornou-se na minha vida eterna; eu estou agonizante n'Ele, mas não há morte n'Ele, e por Ele morro ao eu e ao pecado. Logo que a minha vontade sai do eu para entrar n'Ele, eu morro cada dia para mim mesmo até atingir o fim do eu e até que ele desapareça completamente com todos os desejos terrestres; então tudo o que, em mim, se busca a si mesmo, cairá na morte de Cristo, como na sua primeira mãe, de quem Deus o tirou. A minha egoidade será um nada, repousando no abandono como um instrumento que Deus usa como Lhe agrada.
  8. A minha alma e o meu espírito vivem na sua ressurreição, e a sua harmonia está em mim segundo o abandono, como disse São Paulo: a nossa burguesia está nos Céus (Filipenses, 3,20); o seu Verbo, que sou eu, porque eu já não sou eu mesmo segundo a minha egoidade, despertará mesmo o meu corpo morto, que eu lhe entrego, e o recolocará na primeira imagem, na qual ele foi criado.
  9. Eu vivo em Deus, mas o meu eu não o sabe, porque ele vive nele mesmo; Deus está realmente nele, mas ele não o concebe, e ele esconde a pequena pérola, que eu sou em Cristo, pela sua humanidade. Assim, eu falo e escrevo sobre o Grande Mistério, não que o meu eu o tenha captado, mas porque ela atinge a minha assinatura, por causa do meu desejo que penetra nele. Eu conheço-me, não no meu eu, mas na imagem desse mistério que se reflete em mim pela graça, para atrair esse eu para essa imagem pelo abandono: passa-se o mesmo com vocês, queridos irmãos, para quem este mistério é representado pela minha concepção.
[ Anterior ] [ Índice do Livro ] [ Seguinte ]

Início » Textos » Assinatura das Coisas » 12.2. As Operações em Nós