Da Assinatura das Coisas – 11.5. A Vitória Sobre a Morte

  1. O filósofo verá na sua obra tudo o que Deus fez na humanidade para restaurá-la ao universal ou paraíso; ele verá como a fúria engolirá a bela Vénus na sua essência espinhosa e picante, como Vénus desvanecerá, como ela se tornará negra na agonia da fúria: lá estão juntas a vida e a morte na obediência a Deus, imóveis, deixando o Espírito fazer delas aquilo que Ele quer para levá-las de volta à vontade eterna que as criou. O ser então retornou à ordem primitiva, ele deve permanecer no Verbo fiat, na impressão do poder divino, até ao dia do julgamento, onde Deus transformará o tempo em eternidade.
  2. Quando Jesus provou exteriormente o fel e o vinagre, e interiormente, pelo amor virginal, a cólera furiosa, a sua humanidade disse: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” o Verbo falante estava mudo então na propriedade humana, o ser recém-nascido, que havia morrido em Adão e que acabara de renascer em Cristo, clamava para Deus, porque a Cólera havia entrado pela alma na imagem divina e tinha-a engolido; foi essa imagem que se queixou; Adão tinha-a deixado desaparecer, ela foi renegada pela encarnação de Cristo; a imagem teve que esmagar a cabeça da Cólera na alma ígnea e transformá-la em sol; o Verbo falante tinha-a deixado, ela tinha caído na fúria, e ela sentia a Cólera divina; este Verbo falante conduziu-a então à agonia e de lá até à vida solar eterna. Como a vela arde no fogo, e ao morrer produz a luz e a grande vida não sensível, assim da morte de Cristo devia sair o sol eterno na propriedade humana.
  3. Mas a egoidade humana, ou a vontade própria da alma ígnea, deve ser afogada no Amor; e a imagem do Amor deve render-se à fúria da Agonia: tudo tem que cair na morte, para renascer, na vontade e compaixão divinas, no paraíso segundo o abandono, para que somente o Espírito de Deus seja tudo em todos. O olho do inferno teve que ver, no amor, o fogo transformar-se em luz.
  4. Assim como Adão transformou a imagem de Deus numa forma morta e tenebrosa, Deus recolocou essa imagem na luz a quando da morte, como uma flor sai da terra.
  5. Na obra filosófica, Vénus é abandonada às três formas furiosas que engolem a sua vida; ela perde a sua cor, mas faz com que as suas formas morram afogando-as no Amor; a vida é assim a morte da morte; ambas repousam na natureza eterna ou Verbo fiat e a via divina abre-se diante delas como tinha acontecido na essência, no começo da criação.
  6. Naquela época, o paraíso ou Universal era manifesto e o Amor brilhava através da Cólera; Vénus deve voltar a ser o olho da fúria; Saturno, Marte e Mercúrio produzem um Júpiter, Marte um Sol e Saturno uma Lua; Marte brilha com o Sol fora de Saturno lunar pelo olho de Vénus; todos os sete tornam-se num, o combate terminou e tudo está consumado até à ressurreição.
  7. Jesus diz então: “Está consumada a obra da salvação humana”, depois: “Pai, entrego o meu Espírito nas tuas mãos”. Aqui, toda a sua vida se rendeu ao desejo do Pai ou vontade da natureza eterna e a sua própria vontade, o seu esplendor criatural retornou à sua mãe primitiva central, ao grande mistério da eternidade donde a alma tinha saido. A Vontade própria teve que retornar no fim da natureza para que o eu morresse inteiramente, para que a Vontade divina fosse tudo no ser humano, seu instrumento.
  8. Assim, o Pai reuniu o nosso eu com a Sua vontade pela morte de Cristo; e para isso ele primeiro tingiu o humano com o divino, para que o poder da Natureza humana fosse um sacrifício de aroma agradável para ele.
  9. O amor quebrou a morte e rompeu o selo para que a vontade pudesse regressar para onde estava antes da criatura.
  10. Nós todos devemos segui-lo no Caminho que ele abriu; ninguém pode ver Deus, antes que Deus tenha encarnado nele, o que acontece pelo desejo da fé; e, então, a vontade corrupta, aprisionada na cólera, que floresce na essência terrestre e que frutifica na morte, tem que morrer e cair no livre abandono da misericórdia divina.
  11. Assim, a vontade própria chega com Cristo ao fim da natureza no grande mistério divino, na mão de Deus, que é o desejo eterno e imutável. Assim morre o eu criado, ele vai inteiramente para o Nada e não vive mais a não ser em Deus.
  12. O artista observa, da mesma forma, na obra, os grandes milagres que a vontade natural opera na força de Vénus; quando ele pensa que está perto da meta, a natureza morre e a sua obra torna-se numa noite escura; todas as formas caem do seu centro para o fim da natureza; tudo morre, tudo se desfaz em mil pedaços.
  13. É o mesmo estado que no mistério antes da criação, ou seja, a avidez essencial ou Mercúrio pronunciado, deve chegar ao fim do seu eu e entrar no Verbo falante.
  14. A Essência corporal permanece no centro dos quatro elementos até ao julgamento de Deus que reside na morte do centro solar ou compactação de Vénus e Mercúrio; esta compactação cai na morte e lá torna-se num poder de Júpiter, num centro de liberdade.
  15. Aqui se extingue o desejo do frio e do quente; toda a vontade terrestre e todo desejo das qualidades mortais se aniquilam.
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