Da Assinatura das Coisas – 7.5. Cristo na Linguagem da Natureza
- No suave nome de Jesus Cristo, podemos reencontrar o processo todo completo; e, explicado na linguagem da Natureza, ele pode indicar-nos como se faz o renascimento da morte para a vida. O nome Jesus é a propriedade livre do prazer eterno que se dá ao Pai, centro gerador, e aí figura um verbo de virtude eterna.
- A forma ígnea do Pai configura esta voz divina do prazer da Liberdade, e torna-se num ☿ (Mercúrio) de alegria na essência do Amor; mas, no entanto, não haveria avidez amorosa se ela não fosse acesa com o fogo do Pai: a avidez provém do fogo.
- O Pai de todas as essências gera, pelo seu tormento ígneo, esse santo desejo, o seu coração dá esplendor e brilho ao fogo do amor; a fúria do fogo morre nas eternidades e transmuta-se em desejo amoroso.
- Cristo significa a propriedade do prazer livre; e, na linguagem da Natureza, ele quer dizer violador: romper o poder da fúria, criar nas trevas o esplendor da Luz, transmutar o desejo ígneo em prazer amoroso, tais são as suas obras.
- Aqui a semente da mulher (o prazer livre, onde não há angústia) esmaga a fúria da Natureza eterna; porque o fogo é, justamente, chamado de cabeça, porque ele é a causa da vida eterna; e a liberdade é verdadeiramente a mulher, porque é no nada que está a liberdade, que nasce a santa trindade divina.
- Portanto, o fogo dá a vida, e o desejo livre dá a essência da vida; na essência está a geração: o Pai gera-se a Si próprio para fora do abismo dando origem a um fundo que é a sua essência, o seu coração. O Filho é o fim do Pai; o Pai permanece a base da natureza eterna, e o Filho permanece a base da virtude e da alegria; vemos disso uma imagem no fogo e na luz; assim o Filho tinge o Pai com a liberdade ou o Nada, e o Pai tinge o Nada para que a vida eterna esteja nele, e que ele não seja mais um nada, mas um tom ou uma voz manifestando a eternidade.
- Observem bem isto, ó Sábios, não busquem o Filho fora do Pai: para tingir, é necessário que a tintura seja corporal. O Vencedor da serpente já está nesse corpo, porque a semente da mulher esmagou a cabeça da serpente, não fora da humanidade, mas dentro da humanidade; o amor, fonte do prazer divino, manifesta-se na essência humana e tinge a fúria da morte com o sangue da tintura divina; assim, essa fúria torna-se numa fonte que dissipa a cólera e o veneno oleoso do mercúrio, transportando-os para o reino do Amor jubiloso e triunfante: “Ó Morte! onde está o teu aguilhão? Louvado seja Deus que nos deu a vitória!”
- Convém, portanto, que o sábio pesquisador considere imediatamente a humanidade de Cristo, desde a sua manifestação no corpo da Virgem Maria até à sua ressurreição e ascensão; e ele encontrará no Pentecostes o espírito livre com o qual ele pode tingir e curar o que não é saudável.
- As rosas que florescerão depois do inverno alegrarão o mês de maio, para a iluminação dos bons e a cegueira dos ímpios.
- Eterno louvor seja dado a Deus, que abriu os nossos olhos e nos preparou para recuperar tudo o que Adão perdeu.
- Ora, nós queremos penetrar em todo o processo de Cristo, acompanhá-lo desde a eternidade até ao tempo, e desde o tempo até à eternidade, reintroduzir os milagres do Tempo na eternidade e apresentar abertamente a pérola, para a glória de Cristo e a vergonha do diabo: aqueles que dormem são cegos; mas quem vigia verá as flores de maio.
- Cristo dizia: Buscai e achareis, batei e abrir-se-vos-á; ele também vos deu a parábola do bom samaritano. É uma representação aberta da corrupção humana e da terra, amaldiçoada por Deus.
- Ora, se tu queres ser um mago,1 faz como esse samaritano; caso contrário, tu não conseguirás curar aquilo que foi ferido; porque o corpo do paciente está meio morto, a sua verdadeira roupa foi-lhe retirada, de modo que tu mal consegues reconhecê-lo, a menos que tu possuas os olhos e a vontade do samaritano.
- Eis: a palavra eterna manifestava-se em Adão com a essência divina viva, através do Mercúrio celeste: mas quando o fogo da sua alma infectou, por meio do Diabo, o espírito da sua vontade, e a voltou para a mortalidade terrestre pela propriedade da serpente, o Mercúrio celeste desapareceu da essência celeste, a alma procurou o Mercúrio frio e a alma de Adão quis ter a ciência do bem e do mal.
- Assim, o Mercúrio dos quatro elementos apoderou-se dele, e, começando a envenená-lo, despojando-o da propriedade divina, expondo-o ao calor e ao frio, matando-o pela metade, tirou-lhe a roupa angélica, a roupa do elemento puro. Este elemento era a fonte celeste que penetrava o corpo de Adão; então, ele não precisava de roupa, porque o calor e o frio estavam enterrados nele como a noite está enterrada no dia. Quando a propriedade e a ebulição das trevas surpreendeu os seres humanos, a noite passou a dominá-los, e também foi assim para a terra, quando Deus a amaldiçoou.
- Se tu és mago, é preciso que tu saibas transformar a noite em dia, porque a noite, fonte das trevas, é o borbulhar da angústia da morte; e a fonte do dia luminoso é o esplendor da vida. Cristo reacendeu esse esplendor na humanidade, ao revivificar o ser humano. Ora, se tu queres tingir, tu tens que mudar, novamente, a constrição da morte noturna para o dia; no entanto, o dia e a noite estão juntos como uma única essência.
- A razão pergunta: como devo começar a realizar esta obra? Olha para o processo de Deus para com a humanidade.
- Cristo veio a este mundo2 na forma humana, fazendo descer, na compressão da morte, a tintura divina da vida; ele tornou-se no hospedeiro da nossa forma miserável, para nos impregnar dele. Ele vivia feliz? Não. Ele entrou na morte e morreu, derrubando o trono noturno para nós, e para isso ele incitou a nossa essência a voltar a sua vontade para o divino; então o Fiat celeste poderia agir uma segunda vez na humanidade, porque esta entraria novamente no livre prazer da Divindade.
- Feito isto, o homem-Cristo foi tentado por quarenta dias, tanto tempo quanto o primeiro ser humano permaneceu sozinho, e tentado no Paraíso. Durante esse tempo, tudo o que Adão e a sua esposa desejavam na imaginação era representado pelo Diabo, príncipe deste mundo, diante dos olhos de Cristo, na propriedade da morte.
- O que fez Cristo no momento de sustentar essa batalha, durante a qual a Essência humana teve que penetrar novamente na divindade com o seu desejo? Ele foi ao Jordão, e lá fez-se batizar por João com a água da palavra da vida, essa essência divina que deveria tingir a nossa essência mortal na humanidade exterior; foi então que o Espírito de Deus o conduziu ao deserto e onde ele teve que combater contra a propriedade do Pai, na pessoa do príncipe da fúria. Lá, foram-lhe apresentados o pão de Deus e o pão da cólera de Deus, para ver se a alma batizada, nascida e criada da propriedade do Pai, regressaria ao desejo amoroso do nada.
- Mas o que é aqui mostrado ao mago? Se ele quer fazer milagres com Cristo e regenerar o corpo corrompido, é preciso primeiro que ele o batize. O corpo tem fome do pão de Deus, e essa fome contém o Fiat da nova geração, o Mercúrio. O Artista tem que compreender isto magicamente:3 é preciso que Deus e o ser humano se reúnam para serem batizados, assim como aconteceu com Cristo.
A Humanidade não conseguiu compreender a Divindade antes que a sua fome, que é o Mercúrio morto, tivesse despertado na sua parte celeste. Quando este Mercúrio exercitado, voltou a receber as propriedades e as vontades divinas, a propriedade humana — que é o Mercúrio intenso — alimentou-se da palavra divina, enquanto que as quatro propriedades elementares se alimentam da noite, até que o Mercúrio humano, exaltando a sua vida, transmutou os elementos, fazendo-os morrer ao tempo noturno e ressuscitar no elemento puro vivo da eternidade. - É preciso que o mago observe este procedimento; eu não vou explicá-lo abertamente por causa dos ímpios; direi apenas, presta atenção ao batismo, batiza o Mercúrio morto que está encerrado na essência divina; mas para isso é preciso que tu tenhas a água divina, mas também a água terrestre: o Mercúrio terrestre não recebe o influxo divino enquanto o Mercúrio celeste não despertar e desfalecer, mas ele não encontra a essência divina no plano onde habita; ele volta então a sua vontade, pelo desejo da morte, para o Fiat que o gerou; assim a essência divina aproxima-se e começa a fazer reinar a alegria nele.
- Aqui está o começo do novo corpo que, quando está na vida nova, faz com que os quatro elementos morram: ele cai, com eles, na morte tenebrosa, mas ele ressuscita ao terceiro dia, porque a noite é tragada no sepulcro e a Aurora nasce: se entendesses isto, tu saberias qual é a pérola.
- Eu quero mostrar-te essa pérola, apesar de ninguém a possuir, a menos que Cristo o permita.
- Se tu abandonares, à fome da morte, a propriedade mortal como pasto, a morte aumentará; mas se tu lhe deres a propriedade celeste, ela não a receberá, porque o inferno está contra o céu. É preciso que tu dês à morte, a morte e a cólera de Deus; e, com essa cólera, tu lhe darás da essência divina: é o Batismo que a fará desaparecer, quando tu tiveres permitido que se realize todo o processo de Cristo. É preciso que tu deixes que o Batizado seja pregado, ou seja, que tu o deixes manifestar-se, com a sua forma e as suas cores divinas, sem lhe dar descanso: assim, o mercúrio torna-se operativo.
- E, quando todos os seus milagres forem realizados, tu deves colocar o ser humano velho e o novo na grande cólera de Deus; que tu imoles o ser humano velho na cruz e que o ponhas na putrefação do sepulcro. Cristo ressuscitará; ele far-se-á ver, mas os seus não o reconhecerão mais; ele caminhará na forma celeste, depois na humana, até à Festa de Pentecostes, que é o momento em que, nutrido pela essência divina, o Espírito Santo vem impregnar o corpo todo e revitalizá-lo.
- É lá que a Pérola se esconde; se tu tivesses o universal, também poderias, como São Pedro, tingir três mil almas com o mercúrio celeste; mas a tua morte egoísta comprime-te, porque tu só buscas a avareza, a honra e a volúpia para te banqueteares na propriedade da noite. No entanto, o dia brilhará novamente quando a cólera furiosa de Deus for aplacada e apagada com o sangue dos Santos. O tempo disso está próximo.
Notas
- No sentido do Iniciado na Alquimia. Ver KHUNRATH, Trabalhos. [ ↑ ]
- O ensinamento da Igreja é verdadeiro: Jesus Cristo tinha duas naturezas: a divina e a humana, embora a humana fosse composta apenas de matéria pura. [ ↑ ]
- Simbolicamente. [ ↑ ]
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