Da Assinatura das Coisas – 3.3. Geração das Essências pelo Enxofre, o Mercúrio e o Sal
- Nós explicamos acima como a geração deste mundo é efetuada pelo Enxofre, o Mercúrio e o Sal;1 vamos ver agora como se declaram as separações interiores, como tudo se forma a partir do Centro.
- No princípio eterno, o Enxofre (Sulfur) tem duas formas, igualmente como no princípio temporal deste mundo. O Enxo (Sul) é a tendência em direção à liberdade eterna, o desejo emergindo do abismo, e nessa fome está o começo da Natureza, como atração em si mesma.
- O Enxo (Sul) é Deus, o Fre (Fur) é a Natureza, como se vê no espírito sulfuroso do corpo material com esse nome. A sua essência é uma MATÉRIA dessecada e contrita, a sua propriedade é dolorosa e com exalações ígneas: a razão disto encontra-se na sua dupla origem: proveniente da avidez que é atrativa e da liberdade que é radiante.
- A avidez, sendo uma atração, produz a dureza e o fogo; a liberdade produz o brilho do fogo ou a luz. O Enxo (Sul) é a luz; o Fre (Fur) é o fogo. No entanto, a luz e o fogo manifestam-se, não no Enxofre, mas no Mercúrio e no Sal que é o verdadeiro corpo da Essência.
- A primeira avidez que se declara no desejo da liberdade SUBSTANCIALIZA tudo. Ela é a mãe única de todas as coisas criadas.2
- O MERCÚRIO nascido do ENXOFRE é a separação em luz e em trevas, a roda fraturante, causa da multiplicidade; ele separa os metais onde está a liberdade, das terras grosseiras onde opera a avidez gananciosa.3
- No começo da sua geração, o MERCÚRIO possui três qualidades: 1) o tremor da severidade, 2) a angústia pela IMPRESSÃO da avidez austera, e 3) a expansão da multiplicidade, a sua vida ESSENCIAL.
- Esta última qualidade tende, por si mesma, a sair das trevas; ela foi aguçada pela opressão da austeridade: é então uma vida ativa e sensível, torna-se num esplendor que é o reino da alegria.
- Entendamos aqui que o espírito se separa da essência, a essência permanece na IMPRESSÃO e torna-se MATERIAL, quer seja em tal ou tal metal, conforme a qualidade da primeira compreensão no Enxofre, — quer seja em terra. Nenhum metal pode ser gerado sem o SALITRE4 que é o pavor no MERCÚRIO, o qual se MATERIALIZA pela IMPRESSÃO austera, e se separa num enxofre, num salitre e num sal; não há nenhum corpo nisto tudo; só existe o espírito do ser; o ser sai da morte por uma agonia que tem lugar na grande angústia da IMPRESSÃO, que é a vida mercurial; nessa dor, o terror salnítrico faz como que um relâmpago; depois a liberdade regressa a si mesma; e o ser permanece na angústia austera e tenebrosa.5
- Depois da cólera transbordar assim, provocando o pavor, ela concebe a suavidade e começa a extinguir-se. Esse pavor vem do MERCÚRIO ou da angústia da morte.
- Com ele, acende-se o fogo, que separa uma parte do ser em direção à cólera e a outra em direção ao amor.
- Essa segunda parte da MATÉRIA, que quer livrar-se da Cólera, rebaixa-se abaixo de si mesma: é uma água que a cólera mantém prisioneira. A cólera produz os minerais; e a liberdade é a água gerada com o fogo, pela morte, na suavidade da luz.
- Como esta água se forma no pavor de Salitre, ela é múltipla; pois o pavor mortal que ocorre aí produz uma vida ESSENCIAL e um corpo bruto e insensível cuja MATÉRIA está morta. Cada corpo é semelhante ao seu espírito ESSENCIAL.
- A primeira parte da Matéria é gerada pelo desejo em direção à Natureza, em direção à manifestação do abismo; a segunda, pelo desejo da liberdade.
- No momento desse pavor, produz-se, primeiro pela angústia, uma água sulfurosa.
- Depois, pela atração austera, produz-se a água salina. Todas as coisas criadas têm um sal que contém e atrai o CORPO e um enxofre que possui o óleo ou a luz, quer dizer, o desejo da manifestação, de onde vem o crescimento.
- Depois, pelo pavor de Salitre, vindo da amargura, produz-se uma água terrestre, escura, morta, contendo tudo o que se tornou CORPORAL.
Notas
- Veja A Voz Que Clama no Deserto, 3º diálogo, de LODOÏK. [ ↑ ]
- Ver Saint-Martin, Espírito das Coisas, t. II, a resistência e o movimento. [ ↑ ]
- O enxofre é a passagem da primeira forma para a segunda; o Mercúrio é a passagem da segunda para a terceira. Devemos recordar que as três e até as sete formas não são sucessivas, mas simultâneas; somente no mundo físico o Tempo e o Espaço são necessários para o seu desenvolvimento. [ ↑ ]
- Ver o Vocabulário, a Vida de Jacob Boehme, da Ollendorff. [ ↑ ]
- Devemos entender que a luta das três primeiras propriedades se torna sempre cada vez mais furiosa; é quando se atinge o limite da resistência do meio (do útero) onde se debate, que ocorre o rachar, o clarão, a morte, da quarta forma, do fogo. [ ↑ ]
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