Teosofia Prática – Da vontade de Deus

  1. Assim, nós podemos FILOSOFAR sobre a vontade de Deus, e dizer: Se o Deus oculto, que é apenas um ser e uma vontade, não tivesse saído com essa vontade da sabedoria eterna e sempre igual para uma separação dessa vontade, e se uma tal separação tendente para uma vida natural e criatural não se tivesse introduzido numa materialização, e se essa separação não fosse na vida um combate contínuo, como é que a Vontade oculta de Deus, que é una em si mesma, se teria manifestado?
  2. O que é na Vontade una, uma separação, é, no separado, uma Vontade própria, e assim na Vontade única surgem vontades abissais e inumeráveis, como os rebentos das árvores.
  3. Assim, nós vemos e entendemos que, em tal separação, cada Vontade distinta é introduzida na sua própria forma, e que o combate das vontades pela forma consiste no fato de que, na repartição, nenhuma forma é igual a outra, apesar de todas elas saírem do mesmo fundo.
  4. Assim como o Mal ou a má vontade é a causa da boa vontade e do desejo que esta última tem de retornar e penetrar na sua origem, isto é, em Deus (porque aquilo que é bom em si mesmo, não sofre nem deseja nada, porque não sabe o que lhe falta em si nem fora de si).
  5. Assim, podemos dizer também da boa e una vontade de Deus, que em si ela nada pode desejar, pois não há nada Nele ou fora Dele que possa acrescentar alguma coisa a Ele.
  6. É por isso que Ele se introduz numa diferenciação da qual resulta uma resistência no diferenciado e da qual o Bem se transforma num mal perceptível, agindo e querendo;
    que então se separa do Mal e quer retornar à Vontade una de Deus.
  7. Porque a Vontade una e eterna de Deus sai sempre de si para se manifestar, a força divina sai com ela do Um eterno numa multiplicidade e em muitos CENTROS.
  8. E o seu movimento provoca no Bem o desejo do repouso e do retorno ao Eterno.
    Nesta operação estão a sensibilidade, o conhecimento e a vontade.
  9. Deus, enquanto Deus, não tem nada diante ou atrás Dele que Ele possa querer;
    mas quando Ele quer alguma coisa, essa coisa sai Dele, é uma oposição que Ele faz a Si mesmo, onde a Vontade eterna quer uma qualquer coisa.
  10. Se, portanto, essa qualquer coisa fosse um, a vontade nada teria a fazer lá;
    é por isso que a Vontade abissal se separou, desde a origem, e se concebeu num ser em que ela se pudesse produzir numa qualquer coisa;
    temos uma semelhança disto no temperamento do ser humano.
[ Anterior ] [ Índice do Capítulo 5 ] [ Seguinte ]

Início » Textos » Teosofia Prática » 5. Do combate de Miguel com o dragão » Da vontade de Deus