Da Assinatura das Coisas – 10.3. A Fé

  1. Mas o artista não consegue aperfeiçoar inteiramente a purificação do Mercúrio; essa é a obra da fé. Foi assim que Cristo testemunhou que só podia fazer pouquíssimos milagres em Cafarnaum porque a fé do povo daquele lugar não queria unir-se ao seu divino Mercúrio. Vemos por isso que Cristo, enquanto criatura, não podia operar milagres por si mesmo. Ele invocava Deus, que é o Verbo pronunciador, estendia o seu desejo para ele; assim suou sangue nas Oliveiras; e ao pé de Lázaro disse: «Pai, ouve-me! Eu sei que tu me respondes sempre, mas eu digo isto por causa dos assistentes, para que eles acreditem que tu operas por mim.»
  2. O Artista não deve, portanto, atribuir nada a si mesmo; o próprio Mercúrio realiza todos esses milagres, depois do batismo filosófico e antes de manifestar o universal, porque para esta manifestação é necessário que todas as formas da Natureza sejam cristalizadas e purificadas. Cada forma, para isso, segue uma via particular que a conduz ao mar cristalino que brilha diante do trono dos anciãos, onde ela se transforma em Paraíso; porque o universal é paradisíaco, e Cristo desceu na humanidade apenas para abrir e manifestar o Paraíso no ser humano. O Verbo pronunciador em Cristo operou milagres através do Verbo pronunciado na humanidade e através das sete formas, antes que o universal se manifestasse plenamente no ser humano e o corpo fosse purificado.
  3. É assim também com o trabalho filosófico; quando o Mercúrio prisioneiro da morte recebe o batismo do Amor, as sete formas descobrem-se, embora ainda não se possam manifestar perfeitamente. É necessário que todas as sete tornem as suas vontades numa só e saiam da fúria: elas podem então receber o amor e a sua vontade torna-se num nada; então, ela não contém mais Turba e pode resistir ao fogo.
  4. - 20. O Artista não pode fazer nada se não alimentar as formas; mas ele tem primeiro que livrá-las da impressão de Saturno para que elas se possam alimentar e para que ele reavive o desejo delas.
  1. Quando o Mercúrio se tiver libertado, não recebe mais o seu alimento pela propriedade venenosa da morte; a alegria e o amor surgem do meio da Cólera e das trevas. Se, portanto, o Mercúrio encontra o amor de Marte, a fúria transforma-se em amor, mas de forma instável; as propriedades angelicais apesar disso aparecem a partir deste momento.

A Tentação

  1. Jesus foi conduzido pelo espírito ao deserto e o Diabo aproximou-se dele para o tentar. Quando Cristo estava com fome, o Diabo disse-lhe: “Abre o centro da pedra, ou seja, pega no Mercúrio impresso e transforma-o em pão, come da essência da propriedade da alma. Porque queres comer do nada, da Palavra pronunciadora? Come do Verbo pronunciado, da propriedade boa e má, e tu serás Senhor sobre ambos”. Tal foi o caso de Adão. Mas Cristo respondeu: "Nem só de pão vive o ser humano, mas de toda palavra que sai da boca de Deus".
  2. Porque Cristo não quis comer este pão que podia fazer com as pedras? Porque a fome da propriedade humana teria tomado o enxofre do Verbo pronunciado e o Mercúrio da impressão da morte?
  3. A vontade de se alimentar do Verbo pronunciador tinha sido despertada pela Divindade, quando ela se movia na essência da alma encerrada na morte, no seio da sua mãe Maria e ali manifestava o Amor; uma propriedade divina, portanto, atraia a outra; e essa fome corporal pela essência de Deus, vinha do Batismo; quando a água corporal, aprisionada na impressão mortal, provava a água da vida eterna, isto é, a essência do Espírito Santo, a centelha da propriedade divina surgia como um desejo ardendo na carne pela essência de Deus.
  4. Era preciso que o Homem-Cristo fosse tentado no corpo e na alma; por um lado, a palavra pronunciada do amor e da cólera foi-lhe oferecida ao corpo e à alma sobre os quais o diabo queria dominar; por outro, a palavra pronunciante era oferecida à alma e ao corpo como propriedade do Amor.
  5. O combate sustentado por Adão no Paraíso recomeçava aqui; por um lado, o desejo amoroso por Deus, manifestado na alma, atraia fortemente a sua propriedade, bem como a do corpo; por outro, o Diabo atacava na alma a propriedade furiosa de Deus, levava a sua imaginação para o centro do mundo tenebroso, que é o primeiro princípio ou a vida ígnea da alma.
  6. A imagem de Deus, portanto, teve que escolher se queria viver no amor ou na cólera de Deus, no fogo ou na Luz; a propriedade da alma de acordo com a sua vida ígnea era a propriedade do Pai no mundo ígneo; o mundo luminoso, extinto na alma de Adão, foi incorporado novamente com o nome de Jesus, pela concepção de Maria.
  7. Depois desta primeira tentação, toda a propriedade da pessoa de Cristo foi atacada. O Diabo disse-lhe, como a Adão: “Come do bem e do mal; se não tens pão, faz pão com as pedras; porque passas fome na tua propriedade?” Mas o desejo divino respondeu-lhe: "Não só de pão vive o ser humano, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus". Assim, a alma ígnea dirigia-se para o Amor, para o Verbo pronunciador e o desejo ígneo era alimentado pelo maná do Amor.
  8. Ó filósofos, observem bem esta transformação do fogo pelo Amor. O Pai dava a alma ígnea ao Filho, ou seja, a propriedade do Mercúrio pronunciado dava-se ao Mercúrio pronunciando na Luz; Cristo também dizia: "Pai, os seres humanos eram teus e tu deste-mos a mim, e eu dou-lhes a vida eterna". Assim, Deus no seu Amor deu a Vida eterna à humanidade; e o Amor invadiu toda a fúria da alma.
  9. Mas se a propriedade da alma e do corpo tivesse seguido o Diabo na fúria divina, alimentando-se do Mercúrio prisioneiro, a Vontade não poderia ter sido transmutada. Mas como ela se dirigiu para o Verbo pronunciador e penetrou na morte furiosa da cólera de Deus, ela dirigiu-se para o Amor de Deus e tornou-se num verdejar paradisíaco que se elevava da morte.
  10. Opunha-se, desde então, ao Mercúrio venenoso da propriedade da alma na cólera de Deus; veio o Diabo e disse-lhe: “Tu és o rei vencedor; vem para que te faça ver maravilhas”; levou-o ao cume do templo e disse-lhe: “Lança-te daqui a baixo, diante do povo, porque está escrito: Ele ordenou aos seus anjos que te vigiassem, para que os teus pés não tropeçassem na pedra.” Assim, o Diabo queria exaltar novamente a propriedade ígnea da alma, para que ela se deleitasse, como Adão, na sua própria vontade, tendo assim os olhos abertos e conhecendo o bem e o mal.
  11. Deus permitia que a serpente voltasse à carga; mas a propriedade humana do corpo e da alma havia-se, na pessoa de Cristo, abandonado inteiramente à vontade divina, agindo apenas por aquilo que Deus nela movia, e respondendo ao Diabo: “Está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus.” Uma criatura de Deus não deve, portanto, fazer nada para além da vontade de Deus.
  12. Adão tinha-se desviado da via ao sair desse abandono, querendo conhecer o mal e o bem, o amor e a cólera.

Notas

  1. Toda doença, inorgânica, orgânica, visível ou invisível, só pode ser curada pelo seu contrário analógico, como diria Eliphas Lévi, isto é, por um remédio cujas virtudes se opõem diretamente aos venenos mórbidos. E como a criação se reflete desde o Trono de Deus até ao Poço do Abismo, os atos do Curador por excelência, do Reparador, como lhe chama o Fil… Desc…, são o modelo de todos os tratamentos terapêuticos, em todos os planos. Veja mais adiante: o Processo mágico. [  ]
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