Da Assinatura das Coisas – 8.3. Da Medicina

  1. Os médicos deverão aprender a reconhecer qual é a propriedade dominante em cada coisa; se não souberem isto, muitas vezes matarão os seus doentes; eles devem também saber qual é a propriedade do doente e qual é a propriedade segundo a qual o Mercúrio atua no Enxofre, para produzir um sal. Quando o médico dá ao Mercúrio um sal contrário à sua verdadeira propriedade, o Mercúrio torna-se mais venenoso; ao passo que, se lhe apresentar o sal da propriedade que ele almeja, ele deixa cair o seu veneno na efervescência marciana.
  2. O verdadeiro médico começa, antes de tudo, por colocar o Mercúrio, que deseja usar, em liberdade, fora da angústia da morte. Qualquer outro método é perigoso e incerto e não pode curar completamente nenhuma doença; porque o Mercúrio exterior só pode mover os quatro elementos, na essência mortal; ele não pode fazer nada sobre o corpo astral; mas se for transformado em amor, ele ataca a raiz do mal e opera até ao segundo princípio.
  3. Nós temos uma bela imagem de tudo isto nas ervas dos campos; o Mercúrio da terra é venenoso; o Sol impregna-o e leva-o, pelo seu desejo marciano ou ígneo, em direção à sua essência corporal salina, que é o enxofre: esta mãe faz com que ele repouse na sua essência; então, a liberdade, segundo a sua natureza solar, arrasta o Mercúrio.
  4. Quando este provou o que é celeste, ele deseja com tanta força a virtude do amor que se transmuta com o seu sal e o enxofre, sua mãe, numa fonte de alegria. Assim se faz o crescimento da raiz; primitivamente a acuidade, ou o sal impresso segundo Saturno, era uma angústia mortal; mas tornou-se numa virtude amável: porque nas ervas o sabor provem do Sal.
  5. Quando a virtude interior se eleva assim através da liberdade do Mercúrio até à manifestação da divindade, a virtude do Sol apropria-se da tintura mais sublime da virtude divina, formando um corpo solar a partir do corpo terrestre.
  6. O sol eleva a virtude da raiz, pela força do Mercúrio alegre; e as sete formas da Natureza surgem combatendo entre si; assim, de qualquer maneira que as coisas saiam da sua mãe, o Enxofre, tudo obedece ainda às leis da eternidade.
  7. Notemos que a erva que se eleva do seio da terra é branca em baixo, castanha um pouco mais acima e verde em cima, isto é a assinatura da essência interior. A cor branca é a liberdade do prazer amável; o castanho é a impressão saturniana terrestre e marciana ígnea; e o verde é o Mercúrio de Júpiter e Vénus.
  8. Porque Júpiter é a virtude e Vénus o desejo; ambos tendem para o Sol como para o seu equilíbrio. O espírito das estrelas também se imprime na criatura; nela, Mercúrio é o arquiteto e o separador; Saturno imprime, Júpiter age como um enxofre amoroso; Marte é o borbulhar ardente do enxofre, Vénus é a água, o desejo suave, Mercúrio é a Vida, a Lua é o corpo e o Sol é o Coração, o centro onde penetram todas as formas.
  9. Assim, o Sol exterior penetra até ao Sol da erva, e reciprocamente, com um sabor agradável. Saturno dá um sabor amargo, Júpiter um amável; o sabor marciano é a amargura angustiada; Vénus é suave; Mercúrio separa os sabores, a Lua, cuja propriedade é simultaneamente celeste e terrestre, dá-lhes a menstruação.1 Assim, cada forma tende para o Sol; o desejo amoroso de Júpiter eleva-se para a água superior onde Marte conduz o espírito do Enxofre; Mercúrio dá o movimento e Saturno imprime: Saturno produz os nós. A sua efervescência é o Salitre, segundo a terceira forma da Natureza; Mercúrio trabalha esse Salitre e atinge Vénus: assim crescem os ramos e os galhos; e cada ramo é semelhante à planta inteira.
  10. O Salitre então extingue-se, fazendo com que o Sol retire a Marte o seu poder e a sua propriedade amarga; Júpiter e Vénus entregam-se também ao Sol; e o Sol exterior apodera-se do Sol interior. Notem que o Sol interior é um Enxofre produzido pelo Mercúrio, e que é a propriedade da liberdade divina distribuidora da força e da vida.
  11. Quando Júpiter e Vénus se submeteram ao Sol, Marte e Mercúrio continuam a elevar o caule. A combinação de tempo e da eternidade é feita na virtude dos dois Sóis.
  12. O Enxofre e o seu Sal são então transmutados numa alegria paradisíaca; e esta alegria exteriorizando-se produz as flores e as sementes. O odor das primeiras é paradisíaco, vindo da liberdade divina, e ao mesmo tempo terrestre, porque também procede do Sol exterior.
  13. A propriedade celeste assina pelas pétalas das flores, e a propriedade terrestre, pelas folhas que circundam as flores. Mas como o reino do mundo exterior só tem um tempo, a propriedade paradisíaca logo voa com a sua assinatura, deixando a semente que cresce na flor: nessa semente está a propriedade dos dois Sóis. Ninguém deve pensar que o exterior é divino; mas a virtude divina penetra no manifesto; Deus disse: A semente da mulher esmagará a cabeça da serpente; isto deve acontecer segundo a maldição, em tudo o que se aproxima da Divindade; quando o Mercúrio venenoso se aproxima da Divindade, Deus esmaga-lhe a cabeça pelo sol interior e exterior.

Notas

  1. Ou seja, o fluxo de amadurecimento onde repousa a Tintura; sendo esta última o estado perfeito oculto em germe num corpo ou num ser. [  ]
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