Da Assinatura das Coisas – 4.4. A Sua Ação Recíproca

  1. Consideremos também os graus de ação da liberdade eterna sobre o Enxofre, nas demais propriedades dos Planetas; a forma da Geração é a duma Roda, assim atua o Mercúrio no Enxofre.
  2. O nascimento mais elevado é circular como o Desejo, porque este mundo é esférico; quando a Liberdade deu a Saturno o seu prazer mais sublime, ela abraça-se no seu próprio desejo, de acordo com o modo da Suavidade e da Alegria, e abisma-se; consequentemente a ☽ (Lua) reside lá e ☿ (Mercúrio) também trabalha lá. Surge então da primeira Impressão, segundo a qual o Fogo separa o amarelo do branco, um corpo que é a Prata; a lua sai do amarelo e transmuta-se em branco por causa da suavidade divina, e como a sua fonte é da cor do ☉ (Sol), ela suspira incessantemente pelo ☉ (Sol) e atrai para si o esplendor dele.
  3. Os metais comportam-se assim: é por isso que a Prata está mais próxima do Ouro, cujo modo de geração segue: Vénus cobre-o com o seu manto, assim como Mercúrio; mas a Prata não retém a propriedade de nenhum dos dois, mas o da sua mãe, a Suavidade na Liberdade. Por causa do ☉ (Sol), a ☽ (Lua) tem propriedades celestes, embora que pela força do seu desejo ela permaneça terrestre, um simples tabernáculo das essências celestes e terrestres. O mesmo se passa com o corpo exterior do ser humano que, antes da queda de Adão, era como prata; mas quando ele morreu pelo desejo, somente a propriedade terrestre permaneceu nele; é por isso que ele sempre anseia pelo esplendor do Sol; ele gostaria de brilhar com a Lua, fora do Sol; mas ele só recebe um brilho lunar no qual se glorifica, até que ele renasça no esplendor do Sol, virtude divina do Mercúrio celeste; ele é então a criança preciosa da essência divina atualmente coberta pela Lua terrestre, isto é, com a carne.
  4. A Casa da Prata também é Saturno; ele é a causa da primeira conjunção, mas ele só dirige o seu desejo para o germe do ouro, envolve-o na sua propriedade terrestre e faz com que ele seja cozido pelo Mercúrio.
  5. O Desejo do Prazer Livre é fixo; ele leva a sua vontade desde os pés até à cabeça e faz Júpiter subir para o alto da Roda, sob a virtude saturniana; o seu metal é o estanho, por onde sai o desejo da Liberdade através da avidez da Severidade que é o seu Fiat.
  6. De fato, o desejo da Liberdade eleva-se e cresce gradualmente como uma planta; mas ☿ (Mercúrio) converte esse movimento em rotação, porque ele é o Arquiteto; e como o nascimento eterno é a obra do Mercúrio celeste, palavra eterna do Pai gerador, o mesmo se dá com o movimento do Pai, na criatura. Podemos ver o exemplo disso no ciclo planetário e no composto humano.
  7. Há, em primeiro lugar, o verdadeiro ser humano com coração de ouro, imagem da Divindade; depois, em segundo lugar, o ser humano da Essência divina, o corpo sagrado interno composto na tintura, do Fogo e da Luz, semelhante à prata fina se não tivesse sido corrompido; em terceiro lugar, o ser humano elementar jupiteriano; em quarto lugar, o mercurial verdejante ou celeste; em quinto lugar o marciano ígneo e anímico, segundo a virtude do Pai; em sexto lugar, o venusiano do desejo externo aquoso; em sétimo lugar, o solar, espectador das maravilhas de Deus. Assim, os sete metais têm uma propriedade de acordo com o mundo interno e uma de acordo com o mundo externo.
  8. Quando o movimento giratório passa por Júpiter, Mercúrio sai com um metal quebrado de acordo com o seu espírito: por fora é prata viva, por dentro é uma operação paradisíaca. Ele é, pela sua propriedade espiritual, o governador da palavra e das línguas. Está escrito que Deus criou todas as coisas do Nada pela sua Palavra; é o eterno Mercúrio celeste que é a Palavra que o Pai pronuncia na sua Luz; a articulação é a sua sapiência, e a Palavra é o formalizador.
  9. Ora, o que o mercúrio interior faz na virtude de Deus, o mercúrio exterior realiza do mesmo modo na essência criada; ele é o instrumento pelo qual Deus age exteriormente na vida e na morte, segundo a propriedade de cada coisa: segundo Saturno ele edifica, segundo ele próprio ele distingue e quebra a dureza em Saturno, abre-a para a vida, para as cores e para as formas, de acordo com as duas propriedades terrestre e celeste. Segundo a primeira, ele faz sair, do desejo primitivo da natureza que é Saturno, a fúria da impressão, que é Marte; ele dá-lhe a essência ígnea; ele dirige o Espírito ígneo em direção ao Enxofre em todos os Planetas e dá a cada coisa a sua efervescência e o verdadeiro espírito da vida.
  10. Marte é a grande angústia da primeira impressão; ele separa-se da vontade amorosa livre: ele chama-se então a cólera de Deus, a fúria da natureza eterna. Assim como o Amor (de Deus) se separa da Cólera, o céu do inferno, Deus do diabo, assim acontece no nascimento da natureza exterior.
  11. O Amor nasce da fúria; ele é uma queda ou uma humildade; é por isso que Vénus está na linha de Marte sob o Sol. O seu metal é o cobre porque o Amor é um desejo de luz e alegria; o material de ♀ (Vénus) provém do desejo de amor; se esse desejo se quer corporizar, tem que passar pelo fiat ígneo marciano antes que Saturno o materialize.
  12. O metal de Vénus é, portanto, um parente próximo do Sol por causa da sua tendência para a liberdade; mas como ele retém muito fogo ao se separar de Marte, é muito ardente.
  13. O metal de Marte é o Ferro, fúria do Enxofre onde se acende o fogo. Ele materializa-se pela severidade do Desejo. Marte é o fogo de Vénus, a sua alma ígnea pela qual ele se corporaliza; sem ele, Vénus só dá Água na efervescência nítrica; porque o seu Fogo é apenas um sorriso; ele não consegue, por si mesmo, dar uma essência corpórea; ela não dá ao seu filho uma alma criatural; é Marte que lhe dá a Alma, e Saturno o corpo. O Espírito do Sol pode tingir Marte e Mercúrio em ouro mais facilmente do que a prata, a menos que esta seja reduzida à sua primeira forma, onde Saturno, Marte e Mercúrio estão misturados no Enxofre. Vénus recebe a sua dureza de Saturno e a sua vermelhidão de Marte.
  14. O desejo de Vénus em direção ao ☉ (Sol) é violento, porque ele é a sua primeira mãe; e o esplendor que distingue Vénus entre os planetas e as Estrelas vem da sua mãe, assim como a sua alegria e o seu riso. Ela é, propriamente, uma verdadeira filha do Sol sulfuroso; é por isso que ela está muito próxima dele, no celeste e no terrestre.1
  15. Porque Deus Pai gera o Amor por meio do seu coração, do qual o Sol, que dá virtude a todas as coisas e a todas as essências, é a figura no mundo exterior.
  16. Todas as coisas vêm da palavra de Deus e do Seu coração (o enxofre divino) através da Trindade; elas manifestam-se na e através da essência que é a Sabedoria para penetrar mais uma vez no Coração e na Força, como diz São Paulo: “Toda criatura espera connosco ser libertada da sua vaidade”.
  17. Assim é da essência externa dos Metais, dos Planetas, das Estrelas e das Criaturas; cada coisa aspira ao seu centro, à primeira mãe da qual ela nasceu, ao Sol sulfuroso que é a tintura de todas as essências. O Sol corrige o que a fúria de Marte estragou do primeiro desejo quando passou para Saturno; assim como o Sol divino tinge a Cólera para transmutá-la em Alegria, o Sol exterior transforma Saturno e Marte, que são o enxofre exterior, de maneira que os metais e as criaturas possam crescer e vegetar. Assim, o Sol é o centro da Roda planetária pela qual todas as coisas são sustentadas.

Notas

  1. Também é o que todos os alquimistas ensinam. [  ]
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