Anfiteatro da Sabedoria Eterna - Introdução à Terceira Figura (9)


VIII.

PORQUE É QUE ELE SE MANIFESTOU REGENERADORAMENTE POR SI PRÓPRIO
e como, por intermédio da mão obstétrica da arte da Físico-Química, ele é glorificado no seu corpo, desde a sua assunção?

Tu poderás pedir, a tudo aquilo que precede, uma Resposta plenária à primeira questão.

Fica esta: Como, pela mão obstétrica da arte da Físico-Química, é ele glorificado no seu corpo?

Pelo Regime (Regimen) tri-um.

I. Porque pelo Primeiro Regime da obra católica e Físico-Química, por diversos instrumentos e trabalhos das mãos e pela arte variada do Fogo por meio de Adrop (que se chama Saturno na sua língua), quer dizer Chumbo dos Sábios, Coração de Saturno, os liames da coagulação sendo destramente libertos, o Duenech Viridiano e Vitriol de Vénus (que é a matéria exigida para a Bendita Pedra) oferecer-se-á a nós.

O Leão Viridiano, absconso e latente, manifesta-se então, sendo atraído para fora da sua caverna do monte de Saturno pelas promessas e as lisonjas convenientes à sua natureza.

Todo o Sangue espesso e correndo abundantemente das feridas do Leão, trespassado com uma lança pontiaguda, é cuidadosamente recolhido.

Ulê e Lili, o Limo, a Terra molhada húmida, untuosa e lamacenta, Adâmica, primeira matéria da criação deste Mundo maior, de nós próprios e da nossa vigorosa Pedra, é tornada visível.

O Vinho (a que os sábios chamaram sangue da terra) vindo da matéria uma e católica dos Filósofos, o Vermelho de Raimundo Lúlio, chamado, por causa da sua vermelhidão (cor da força) espesso, denso e obscuro, negro mais negro que o próprio negro, mostrar-se-á então.

O Liame pelo qual a Alma está ligada ao Corpo, e reunida numa única massa, afrouxar-se-á e dissolver-se-á.

O Espírito e a Alma (espírito animado) afastam-se pouco a pouco e separam-se insensivelmente do corpo; quando isto estiver feito, o fixo torna-se volátil, e o corpo imundo, dia após dia, corrompe-se, destrói-se, morre, enegrece e incinera-se.

Esta cinza, ó meu filho, não a creias vil: ela é o diadema do teu corpo; nela esconde-se o nosso pigmeu que vence e aterroriza os gigantes.

II. Pelo Segundo Regime (que é trabalho de mulheres e jogo de crianças), no Vaso um, cristalino, circular e precisamente proporcionado à quantidade de matéria, por um artifício físico-mágico, no Forno um do Atanor, Hermeticamente e mesmo Cabalisticamente selado pelo Teósofo, e pelo Fogo um, o Corpo, o Espírito e a Alma, com um cuidado muito exato e com trabalhos de Hércules, exteriormente lavados, mundificados e purgados, são de novo compostos; eles misturam-se, corrompem-se por si próprios; e sem cooperação manual, pelos únicos trabalhos da natureza, eles são dissolvidos, destilados, separados, sublimados, conjugados, misturados de novo; eles copulam e reúnem-se; e o que é fixo torna-se plenamente volátil; eles são coagulados também, per se; eles são coloridos de diversas maneiras, calcinados, fixados; e pelo contrário, o que era volátil torna-se fixo; e um mundo novo e renovado é constituído.

Recorda-te que, na mixagem, de acordo com os pesos e a proporção da natureza destas substâncias purificadas à superfície ou exteriormente, é preciso diligentissimamente observar e encontrar o segredo triplo da Composição, conhecido somente por um muito pequeno número; doutra forma, o espírito animado não pode ser conjugado com o corpo, nem, pelo contrário, o corpo pode ser reunido ao espírito.

Isto tendo sido perfeitamente realizado, o novo Caos da Natureza católica e do novo mundo futuro aparecerá, vindo do antigo; ele será explicado, separado; as partes separadas, quer dizer de natureza interna e radical e central, Divinas, serão ornamentadas, sem a ajuda de nenhum trabalho das mãos; tu julgarás que aquilo se realiza quando sentires em ti um movimento interno, e então, oh! tu chorarás de alegria!

Tu compreenderás, certamente, porque é que o pecado da origem é divinamente apagado e separado pelo fogo do amor Divino, na regeneração quer do Corpo, quer do Espírito, quer da Alma.

Eu não escrevo fábulas. Tu tocarás com as tuas mãos, tu verás com os teus olhos o Azoth, quer dizer o Mercúrio Católico dos Filósofos que sozinho é suficiente para obter a nossa Pedra, com o Fogo interno e externo, Fisicomagicamente unido contudo por uma necessidade inevitável com o Fogo Olímpico por uma harmonia simpática.

Se tu não conheces perfeitamente este segredo de Vulcano profundamente escondido; se tu não aprendes pontualmente a servir-te dele no forno tri-um, esfericamente redondo, instruído quer pela arte quer por uma prática frequente quer por Deus Ele Próprio ao praticar a Cabala, tu trabalharás em pura perda e em vão (mesmo que tu tenhas a matéria requerida).

As Trevas aparecem sobre a face do abismo; a Noite, Saturno e o Antimónio dos Sábios aparecem; a negritude e a cabeça de corvo dos Alquimistas, e todas as cores do Mundo aparecem na hora da conjunção; o arco-íris (Iris) também, núncio de Deus, e a cauda do pavão.

São mistérios notáveis aqueles que são ensinados acerca do arco-íris quer no antigo quer no novo Testamento.

Por fim, depois que a obra tenha passado da cor acinzentada ao branco e ao amarelo, tu verás a Pedra dos Filósofos, o nosso Rei e Dominador dos Dominantes, sair do seu sepulcro vítreo para montar sobre o seu leito (thalamus) ou trono nesta cena mundana, no seu corpo glorificado, quer dizer Regenerado e Mais Que Perfeito, dito de outra maneira o Carbúnculo brilhante, muito irradiante de esplendor, e cujas partes subtilíssimas e depuradíssimas, pela paz concordante da mixagem, estão inseparavelmente ligadas e ajuntadas no um; igual, Diáfano como o Cristal; compacto e ponderosíssimo, com uma fusão fácil no fogo como a resina, e fluente como a cera e mais do que o mercúrio, sem fumo no entanto; trespassando e penetrando os corpos sólidos e compactos, como o óleo penetra o papel: solúvel e liquescente em qualquer licor e comiscível com ela; friável como o vidro; da cor do açafrão quando ela está em pó, mas vermelha como o rubi quando ela está em massa integra (a qual vermelhidão é a Assinatura da perfeita fixação e da fixa perfeição); colorando e tingindo constantemente; fixa nas tribulações de todas as experiências e mesmo nas provas pelo enxofre devorador e as águas ardentes e pela perseguição veementíssima do fogo; sempre duradoura, incalcinável, e, ao contrário da Salamandra, Permanente e julgando justamente Todas As Coisas (porque ela é, à sua maneira, Tudo em todos) e clamando: Eis; eu renovarei todas as coisas.

III. Pelo Terceiro Regime se realiza a União inseparável da Pedra Filosófica com o Mundo maior nas suas partes, o que é e se chama Fermentação.

Nota este mistério harmónico: O que, na Cabala, é a União com Deus do ser humano reduzido à simplicidade da Mónada, é a mesma coisa, na Físico-Química, do que a Fermentação da nossa Pedra gloriosa e mais que perfeita com o Macrocosmo nas suas partes.

E: da mesma forma que o ser humano unido a Deus, devido a Deus é quase um Deus humano ou um homem Divino, quer dizer quase Deificado, e, por esta razão pode tudo aquilo que ele quer, porque é o que quer Deus Ele Próprio; da mesma forma a Pedra dos Filósofos fermentada com o Mundo maior nas suas partes, devido a este fermento, transforma-se naquilo que ela quiser e opera diversamente tudo em tudo, segundo as naturezas diversas de cada coisa; e ela coigualará todas as coisas totalmente, singularmente e universalmente.

Com isto, ó filho da doutrina, tu poderás compreender um pouco porque é que os filósofos impuseram ao seu Azoth o nome de Mercúrio que adere aos corpos.

Se tu compreendes isto perfeitamente, sê aquele do qual se pode verdadeiramente dizer: Ele já realizou a metade da obra, visto que ele começou bem.

A Pedra dos Filósofos fermenta não apenas simplesmente com a Terra e a Água, mas também com os seus frutos, quer dizer com os vegetais, os animais e os minerais; quer dizer com as medicinas preparadas pela arte espagírica por intermédio dos Vegetais, dos Animais e dos Minerais; de modo que estes são exaltados em virtude, pelo fogo católico desta Bendita Pedra, e são deduzidos mais que perfeitamente a e em ato, pelo seu próprio poder.

Ela fermenta também com os metais, a saber: a Pedra, no estado de soberana brancura, com a prata pura, em branco; a Pedra, cor de sangue, com o ouro obryzum, em vermelho. E isto é a obra dos três dias.


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