Teosofia Prática - Anexo Da Tintura
Quando um ferro é aquecido em brasa, permanece ferro, mas é “tingido com o fogo”. O corante “tintura” a água, ou seja, muda a sua cor, mas não a sua substância.
A alma pode ser tingida com a essência do Amor ardente:
«Dessa essência do Amor ardente, a Tintura (quintessência), a água espiritual, a virtude do fogo e da luz eleva-se com o Espírito; o seu nome é Virgem Sofia.» Jacob Boehme, Da Eleição da Graça, 3,21.
«Essa Tintura (quintessência) é a virtude ou o poder da palavra no Verbo, e a essência é a concentração, onde a palavra do Verbo se torna essencial e sensível. A essência é a água espiritual, da qual Cristo diz que gostaria de nos dar a beber, e que ela seria para nós fonte da vida eterna. A Tintura (quintessência) muda essa água num sangue espiritual, porque ela é a sua alma; é o Pai e o Filho, donde procede o Espírito Santo, que é o poder e a virtude divina.» Jacob Boehme, Da Eleição da Graça, 3,27.
Existem duas tinturas: do fogo (masculina) e da luz (feminina, água). As duas estão unidas num amor perfeito:
«É nessa água espiritual que estão encerradas as duas Tinturas (quintessências), a masculina e a feminina, os dois amores que são Divinos na temperatura, que foram separados em Adão, quando a sua imaginação saíu da temperatura, mas foram reunidos em Cristo.» Jacob Boehme, Da Eleição da Graça, 3,22.
«O leitor deve saber de onde se originou a queda dentro duma tão bela imagem; que ele entenda que não foi a vontade de Deus, como diz a razão, mas a própria culpa de Adão que foi criado bom e recebeu de Deus o livre arbítrio para se desenvolver a si próprio.
Pois ele tinha em si as duas Tinturas (quintessências), ele era uma virgem masculina, vestida de sabedoria e de inteligência, reinando sobre os peixes, as aves e os animais, podendo dar a cada um o seu nome, conforme a sua propriedade, tal como Moisés conta no Génesis, 1 e 2, em termos muito claros.» J.-G. Gichtel, Teosofia Prática, 4,46-47.
A Tintura é a quinta propriedade da Natureza:
«A quinta forma na ciência ou no desejo é o verdadeiro fogo da luz do Amor, se ele se separa do fogo penoso pela luz, na qual se concebe o Amor divino no ser.
Porque as potências se separam no brilho do fogo e tornam-se desejosas. No entanto as potências não ficam mais na dor, mas na alegria e nas delícias da harmonia, na sua fome e no seu desejo, como procuramos fazer compreender ao leitor.
Essas potências atraem-se elas próprias para a essência pela ciência ou o desejo: elas atraem nelas a Tintura (quintessência) do fogo e da luz, a virgem Sofia, que é o seu alimento, porque ela é uma grande doçura e benignidade.
O sentimento do prazer e do bom gosto concentra-se numa essência pelo desejo dos três primeiros efeitos do movimento; isso chama-se o corpo da Tintura (quintessência), é a essência divina, a corporalidade celeste de Cristo.» Jacob Boehme, Da Eleição da Graça, 3,26.
«Esta quinta forma ou qualidade da Natureza tem nela todos os poderes e virtudes da Sabedoria divina. Ela é o centro pelo qual Deus o Pai se manifesta no Seu Filho pelo Verbo dizendo e proferindo a palavra.
Ela é o caule da vegetação, da vida eterna e da criatura espiritual; ela é um alimento da alma ardente do fogo e dos anjos. Ela é tudo o que não conseguimos exprimir.
Ela é a manifestação eterna e permanente da divindade trinitária, onde todas as qualidades e propriedades da Sabedoria divina qualificam e se movem em conjunto, à maneira dos sentidos; são os sentidos da visão, do paladar, do odor e da vida do amor do fogo; esses sentidos qualificam uns dentro dos outros.
Ela chama-se o poder ou a virtude da glória divina que se difundiu na criação e se deu a todas as coisas criadas.
Ela está oculta e escondida no centro de cada coisa, segundo a qualidade ou propriedade; é uma Tintura (quintessência) dentro dos corpos vivos e dessa ciência ou desse desejo todas as coisas germinam, vegetam, crescem, florescem e têm frutos nas sua época.
Ela é a virtude encerrada na quintessência e forma o remédio que cura as doenças.» Jacob Boehme, Da Eleição da Graça, 3,29.
A Tintura está representada na Figura 0 pelo Número 9:
«As propriedades exteriores habitam em si mesmas no externo, isto é, na Palavra expressa, e são totalmente externas; elas não podem, pela sua própria força, alcançar os poderes do mundo sagrado; só o mundo sagrado as penetra: ele também habita em si próprio. Mas no punctum do Sol, o Número oito está aberto, isto é, a natureza eterna, o fogo mágico eterno; e no fogo, a Tintura eterna, que é o Número nove; e na Tintura, a cruz, onde a Divindade se manifesta a si própria, que é o Número dez: e para além desta manifestação está o entendimento eterno, isto é, o Um, isto é, Deus, Jeová, isto é, o Abismo.» Jacob Boehme, Mysterium Magnum, 11,34.
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