Teosofia Prática - Introdução
Ao leitor amigo de Deus e da sabedoria
- Apesar de eu ter hesitado muito em partilhar esta pequena flor paradisíaca, conquistada num longo e fatigante combate contra este mundo grosseiro e sujo, que espezinha a pérola do conhecimento de Deus e de Si, e que persegue os fervorosos, os meus caros colaboradores obrigaram-me, com as suas exortações repetidas, a entregar à luz do dia esta representação do mistério divino no seu fundo mais interior, a fim de que eles tenham um espelho diante dos olhos para se contemplarem nele.
- A fim de que ele lhes sirva de comemoração e de aviso, porque Adão, tendo cometido a falta, acordou e tornou operante a Treva fria e irascível dentro das suas formas de vida, e provocou, em todas as suas descendências, um combate violento do mal contra o bem, da Treva, da Cólera e do Não contra a Luz, o Amor e o Sim.
- Assim portanto, que cada um fique de guarda, que reze e vigie com aplicação e severidade, que tenha uma supervisão vigilante sobre todos os maus influxos venenosos das constelações infernais e terrestres; que fique rigorosamente de guarda à convulsão, ao desejo, e à Imaginação do seu caráter, por forma a que o Bem não seja abatido, e que a sua queda, e a sua separação, não se agravem ainda mais.
- É isso que acontece muito facilmente e muito depressa quando a alma ganha confiança e se relaxa um pouco, quando ela se volta inconsideradamente para o Espírito terrestre deste mundo, ou quando ela deixa penetrar em si um pensamento mau contra o seu irmão, e quando ela se exalta com orgulho acima dos Tronos.
- Porque os três Princípios atraem a alma: cada um procura governá-la, e regressa tanto mais quanto mais a obteve, ou até que tenha sido vencido pelo mais forte, quer dizer até que a Luz, poder único, as tenha amarrado e submetido, assim como eu experimentei durante os longos anos do meu difícil combate.
- Não é suficiente começar este empreendimento com boas intenções: não se deve, depois de ter trabalhado nele duramente durante oito, nove, dez anos ou mais, fraquejar impensadamente, azedar outros corações fracos, e precipitá-los consigo no infortúnio eterno.
- Pelo contrário, é preciso sacrificar ao Senhor toda a sua vida, abandonar-se a Ele de corpo, de alma e de espírito, de fortuna e de saúde, e compreender que foi apenas a graça de Deus que nos chamou à regeneração; é preciso prometer a Deus, e ao seu Cristo, uma fidelidade e uma constância eternas, e empenhar-se toda a vida por ser uma testemunha da verdade.
- Para que serve amarmos a nossa vida terrestre? No entanto, ela é perecível, e, segundo a parábola de Cristo, nós a perderemos. Preferível não metermos a mão na charrua e esperarmos pacientemente, na simplicidade, pelo apelo de Deus, ou que, se formos trabalhados pelo Espírito de Deus, avaliemos humildemente as nossas forças interiores, para não opormos dez mil soldados a vinte mil; é melhor irmos lentamente, do que voar ao encontro do inimigo, menosprezá-lo e sermos no fim derrubados por ele.
- Eu escrevo para avisar aqueles que caminham alegremente atrás do Senhor, mas que ainda não combateram. Porque geralmente, o começo é suave, satisfatório e muito agradável; mas quando se torna sério, quando a alma procura tirar a sua vontade da constelação exterior para se voltar para Deus, no seu CENTRO, abandonar todo o visível e passar através da oitava forma do Fogo, isso exige um trabalho duro, suores de sangue; porque a alma tem então que lutar com Deus e com os seres humanos.1
- Portanto, a partir do momento em que tu queres regressar à tua vida, e amá-la de novo, o Diabo vem com sete espírito ainda mais maus, rodeia a tua pobre alma com todas as formas, e faz-te passar o resto da tua vida na maior miséria, na pobreza, na fome e nas preocupações glutonas e terrestres de um escravo para seres por fim lançado no fogo de Deus com tremor, angústia e dor. Eu, infelizmente! conheci exemplos verídicos de tais desgraças.
- Tu és, neste momento, o teu próprio artesão. Recolhe-te na humildade e faz de ti próprio um anjo, e tu serás um anjo. Mas, faz de ti um demónio turbulento e orgulhoso, e Deus não poderá perdoar-te.
- O Fogo da Oitava Forma é o ponto de separação; eu extraí essa figura do livro Da Tripla Vida de Boehme, e desenhei-a para a tornar mais clara; porque o ser humano tornou-se tão terrestre e tão exterior, que ele ESPECULA sempre sobre si próprio, e ele procura muito longe, para lá do Firmamento estelar na suprema Eternidade, aquilo que está tão perto de si, no CENTRO interior da sua alma.
- As FIGURAS seguintes mostram também como os três mundos se distribuem dentro do ser humano, ou em que relação estão entre si, como o Deus muito bom me revelou a mim, introduzindo o meu espírito dentro de todos os CENTROS. Porque eu só mostro os CENTROS, se alguém quiser fazer grandes círculos ou esferas, e movê-las umas dentro das outras, pode fazê-lo; tal como eu as vi em espírito, assim as desenhei.
- E apesar de nem todos chegarem a esta contemplação, porque ela tem lugar pela graça divina e a constante fidelidade, vitória e supremacia, todo o combatente sincero as encontrará com a sua sensibilidade, se agir interiormente com Deus.
- Eu descrevi, no quinto capítulo, o combate de Miguel e do Dragão, o que é, como se desenrola na criação pela separação da vontade movida em muitas vontades contrárias; igualmente, eu acrescentei e expliquei a que provas se deve submeter o Filho da Virgem até que seja estabelecido no matrimónio espiritual.
- E por fim, no sexto capítulo, falei da oração e do seu MISTÉRIO, nomeadamente, o que é rezar em espírito e em verdade, tal como eu aprendi com a minha própria experiência; porque a oração é a espada sempre cortante do soldado.
- Que o caro leitor tome isto com Amor; que o utilize, e agradeça a Deus, de Quem eu o recebi, e ao amor adorável de Quem eu me recomendo com o leitor, pela oração cristã.
Notas
- «E Jacó ficou sozinho. Então veio um homem que se pôs a lutar com ele até o amanhecer. Quando o homem viu que não poderia dominá-lo, tocou na articulação da coxa de Jacó, de forma que lhe deslocou a coxa, enquanto lutavam. Então o homem disse: “Deixe-me ir, pois o dia já desponta”. Mas Jacó lhe respondeu: “Não te deixarei ir, a não ser que me abençoes”. O homem lhe perguntou: “Qual é o seu nome?” “Jacó”, respondeu ele. Então disse o homem: “Seu nome não será mais Jacó, mas sim Israel, porque você lutou com Deus e com homens e venceu”.» Génesis 32, 24-28 [ ↑ ]
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