Teosofia Prática - Introdução

Ao leitor amigo de Deus e da sabedoria

  1. Apesar de eu ter hesitado muito em partilhar esta pequena flor paradisíaca, conquistada num longo e fatigante combate contra este mundo grosseiro e sujo, que espezinha a pérola do conhecimento de Deus e de Si, e que persegue os fervorosos, os meus caros colaboradores obrigaram-me, com as suas exortações repetidas, a entregar à luz do dia esta representação do mistério divino no seu fundo mais interior, a fim de que eles tenham um espelho diante dos olhos para se contemplarem nele.
  2. A fim de que ele lhes sirva de comemoração e de aviso, porque Adão, tendo cometido a falta, acordou e tornou operante a Treva fria e irascível dentro das suas formas de vida, e provocou, em todas as suas descendências, um combate violento do mal contra o bem, da Treva, da Cólera e do Não contra a Luz, o Amor e o Sim.
  3. Assim portanto, que cada um fique de guarda, que reze e vigie com aplicação e severidade, que tenha uma supervisão vigilante sobre todos os maus influxos venenosos das constelações infernais e terrestres; que fique rigorosamente de guarda à convulsão, ao desejo, e à Imaginação do seu caráter, por forma a que o Bem não seja abatido, e que a sua queda, e a sua separação, não se agravem ainda mais.
  4. É isso que acontece muito facilmente e muito depressa quando a alma ganha confiança e se relaxa um pouco, quando ela se volta inconsideradamente para o Espírito terrestre deste mundo, ou quando ela deixa penetrar em si um pensamento mau contra o seu irmão, e quando ela se exalta com orgulho acima dos Tronos.
  5. Porque os três Princípios atraem a alma: cada um procura governá-la, e regressa tanto mais quanto mais a obteve, ou até que tenha sido vencido pelo mais forte, quer dizer até que a Luz, poder único, as tenha amarrado e submetido, assim como eu experimentei durante os longos anos do meu difícil combate.
  6. Não é suficiente começar este empreendimento com boas intenções: não se deve, depois de ter trabalhado nele duramente durante oito, nove, dez anos ou mais, fraquejar impensadamente, azedar outros corações fracos, e precipitá-los consigo no infortúnio eterno.
  7. Pelo contrário, é preciso sacrificar ao Senhor toda a sua vida, abandonar-se a Ele de corpo, de alma e de espírito, de fortuna e de saúde, e compreender que foi apenas a graça de Deus que nos chamou à regeneração; é preciso prometer a Deus, e ao seu Cristo, uma fidelidade e uma constância eternas, e empenhar-se toda a vida por ser uma testemunha da verdade.
  8. Para que serve amarmos a nossa vida terrestre? No entanto, ela é perecível, e, segundo a parábola de Cristo, nós a perderemos. Preferível não metermos a mão na charrua e esperarmos pacientemente, na simplicidade, pelo apelo de Deus, ou que, se formos trabalhados pelo Espírito de Deus, avaliemos humildemente as nossas forças interiores, para não opormos dez mil soldados a vinte mil; é melhor irmos lentamente, do que voar ao encontro do inimigo, menosprezá-lo e sermos no fim derrubados por ele.
  9. Eu escrevo para avisar aqueles que caminham alegremente atrás do Senhor, mas que ainda não combateram. Porque geralmente, o começo é suave, satisfatório e muito agradável; mas quando se torna sério, quando a alma procura tirar a sua vontade da constelação exterior para se voltar para Deus, no seu CENTRO, abandonar todo o visível e passar através da oitava forma do Fogo, isso exige um trabalho duro, suores de sangue; porque a alma tem então que lutar com Deus e com os seres humanos.1
  10. Portanto, a partir do momento em que tu queres regressar à tua vida, e amá-la de novo, o Diabo vem com sete espírito ainda mais maus, rodeia a tua pobre alma com todas as formas, e faz-te passar o resto da tua vida na maior miséria, na pobreza, na fome e nas preocupações glutonas e terrestres de um escravo para seres por fim lançado no fogo de Deus com tremor, angústia e dor. Eu, infelizmente! conheci exemplos verídicos de tais desgraças.
  11. Tu és, neste momento, o teu próprio artesão. Recolhe-te na humildade e faz de ti próprio um anjo, e tu serás um anjo. Mas, faz de ti um demónio turbulento e orgulhoso, e Deus não poderá perdoar-te.
  12. O Fogo da Oitava Forma é o ponto de separação; eu extraí essa figura do livro Da Tripla Vida de Boehme, e desenhei-a para a tornar mais clara; porque o ser humano tornou-se tão terrestre e tão exterior, que ele ESPECULA sempre sobre si próprio, e ele procura muito longe, para lá do Firmamento estelar na suprema Eternidade, aquilo que está tão perto de si, no CENTRO interior da sua alma.
  13. As FIGURAS seguintes mostram também como os três mundos se distribuem dentro do ser humano, ou em que relação estão entre si, como o Deus muito bom me revelou a mim, introduzindo o meu espírito dentro de todos os CENTROS. Porque eu só mostro os CENTROS, se alguém quiser fazer grandes círculos ou esferas, e movê-las umas dentro das outras, pode fazê-lo; tal como eu as vi em espírito, assim as desenhei.
  14. E apesar de nem todos chegarem a esta contemplação, porque ela tem lugar pela graça divina e a constante fidelidade, vitória e supremacia, todo o combatente sincero as encontrará com a sua sensibilidade, se agir interiormente com Deus.
  15. Eu descrevi, no quinto capítulo, o combate de Miguel e do Dragão, o que é, como se desenrola na criação pela separação da vontade movida em muitas vontades contrárias; igualmente, eu acrescentei e expliquei a que provas se deve submeter o Filho da Virgem até que seja estabelecido no matrimónio espiritual.
  16. E por fim, no sexto capítulo, falei da oração e do seu MISTÉRIO, nomeadamente, o que é rezar em espírito e em verdade, tal como eu aprendi com a minha própria experiência; porque a oração é a espada sempre cortante do soldado.
  17. Que o caro leitor tome isto com Amor; que o utilize, e agradeça a Deus, de Quem eu o recebi, e ao amor adorável de Quem eu me recomendo com o leitor, pela oração cristã.

Notas

  1. «E Jacó ficou sozinho. Então veio um homem que se pôs a lutar com ele até o amanhecer. Quando o homem viu que não poderia dominá-lo, tocou na articulação da coxa de Jacó, de forma que lhe deslocou a coxa, enquanto lutavam. Então o homem disse: “Deixe-me ir, pois o dia já desponta”. Mas Jacó lhe respondeu: “Não te deixarei ir, a não ser que me abençoes”. O homem lhe perguntou: “Qual é o seu nome?” “Jacó”, respondeu ele. Então disse o homem: “Seu nome não será mais Jacó, mas sim Israel, porque você lutou com Deus e com homens e venceu”.» Génesis 32, 24-28 [  ]
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