Aurora Nascente - 1. O Surgir da Aurora

1. INÍCIO DO TRATADO DO BEATO TOMÁS DE AQUINO.
"O SURGIR DA AURORA"
(AURORA CONSURGENS)
COMO SE CHAMA O LIVRO NA ARTE,
SEMELHANTE A UMA IMINENTE "HORA DE OURO"
(AUREA HORA)

  1. Todos os bens vieram a mim juntamente com ela 1, essa sabedoria do vento sul 2, que clama lá fora, faz ouvir a sua voz nas ruas, exorta a multidão, pronunciando as suas palavras à entrada das portas da cidade 3: Vinde a mim, iluminai-vos e as vossas operações não vos causarão vergonha 4; todos vós que me desejais, sede cumulados com as minhas riquezas 5.
  2. Vinde pois, filhos, escutai-me, eu vos ensinarei a ciência de Deus 6.
  3. Quem é sábio e a compreende 7, e dela diz Alphidius que os homens e as crianças passam ao seu lado pelos caminhos e pelas ruas, e todos os dias é pisoteada nos excrementos pelos animais de carga e pelo gado 8.
  4. E Senior diz: Nada há na natureza de mais insignificante e de mais precioso do que ela, e Deus não a criou para ser comprada com dinheiro 9.
  5. Salomão escolheu-a como luz necessária, acima de toda a beleza e de toda a saúde, não achando que o valor das pedras preciosas pudesse comparar-se ao seu 10.
  6. Pois todo o ouro comparado com ela é como um pouco de areia e a prata como a lama, e isto não sem motivo, porquanto adquiri-la é melhor do que o rendimento do ouro e da prata mais puros.
  7. E o seu fruto é mais precioso que todas as riquezas deste mundo e tudo o que desejares não poderá ser comparado com ela.
  8. Vida longa e saúde estão na sua mão direita, e na esquerda estão glória e bens infinitos.
  9. Belos são os seus caminhos, e as suas obras são dignas de louvor; estas não são desprezíveis nem feias e as suas sendas são moderadas e sem precipitação, ligando-se à persistência de um labor prolongado 11.
  10. É uma árvore de vida para todos os que a tocam e uma luz que nunca se extingue.
  11. São bem-aventurados os que a compreendem 12; pois a sabedoria de Deus jamais passará, como testemunha Alphidius ao dizer: Se alguém encontrar esta sabedoria, ela será para ele alimento legítimo e eterno 13.
  12. E Hermes e os demais filósofos dizem 14 que se um homem, possuindo este saber, vivesse 1000 anos e precisasse de alimentar diariamente 7000 homens, jamais passaria necessidade.
  13. É o que confirma Senior ao dizer: Ele seria tão rico como aquele que possui a pedra 15 da qual se extrai fogo, e assim ele pode dar fogo a quem quiser, quanto quiser e quando quiser, sem qualquer perda pessoal 16.
  14. Aristóteles pensa o mesmo no livro segundo "Da Alma", ao escrever: A todas as coisas naturais é imposto um termo de grandeza e de crescimento 17.
  15. No entanto, o fogo aplicado aos combustíveis cresce infinitamente 18.
  16. Feliz o homem que encontra esta sabedoria e ao qual aflui esta prudência (de Saturno) 19.
  17. Que o teu pensamento não a abandone em todos os teus caminhos, e ela mesma guiará os teus passos 20.
  18. Como diz Senior: Mas só a compreenderá quem for sábio, sutil e engenhoso nas suas reflexões, quem possuir um espírito esclarecido pelo Liber aggregationis 21.
  19. Então todo o espírito que flui segue a sua concupiscência 22 - bem-aventurado aquele que refletir sobre as minhas palavras! 23
  20. E Salomão: Meu filho, coloca-a em torno do teu pescoço, escreve-a nas tábuas do teu coração, e a encontrarás 24.
  21. Diz à sabedoria: Tua és minha irmã! e à prudência chama de amiga 25.
  22. Pois refletir sobre ela é uma percepção natural, extremamente fina (sutil), que a leva (a sabedoria) à sua perfeição 26.
  23. E aqueles que tiverem perseverado na vigília por causa dela, logo estarão em segurança 27.
  24. Ela é clara para aqueles que possuem inteligência, e não murcha e jamais desaparece.
  25. Parece fácil para os que a conhecem 28, pois ela mesma vai ao encontro e cerca os que são dignos dela; e ela lhes aparece cheia de alegria pelos caminhos, e se apressa a acudi-los em todas as ocasiões.
  26. Pois o seu começo é a natureza mais verdadeira, que não induz ao engano.

Notas

  1. Sb 7, 11. [ ]
  2. Cf. Mt 12, 42, e Zc 9, 14. [ ]
  3. Pr 1, 20-21. [ ]
  4. Sl 34, 6. [ ]
  5. Eclo 24, 26.30. [ ]
  6. Sl 34, 12. [ ]
  7. Os 14, 10. [ ]
  8. Cf. Liber do filósofo Alphidius, Ashmole, 1420, fl. 18 e 21. [ ]
  9. Cf. Senior, De Chemia antiquissimus libellus..., Argentorati, 1566, p. 117. [ ]
  10. Cf. Ros. Phil., p. 100. [ ]
  11. Cf. Petrus Bonus: Pretiosa Margarita novella..., Lacinius, Veneti 1546, p. 45. [ ]
  12. Pr 3, 13-18. [ ]
  13. Cod. Ashmole, 1420. [ ]
  14. Consilium Coniugii, in Ars Chemica, 1566, p. 116. [ ]
  15. Rosarium Phil., in Manget, III, p. 92a. [ ]
  16. Ros. Phil. in Manget, III, p. 92a. [ ]
  17. Ibid., p. 120a. [ ]
  18. De Anima B4, 416a. [ ]
  19. Pr 3, 13. [ ]
  20. Pr 3, 5-6. [ ]
  21. Cf. Senior, De Chemia, Estrasburgo, 1566, p. 11. [ ]
  22. Cf. Senior, De Chemia, l. c., p. 12. [ ]
  23. Cf. ibid., p. 9. [ ]
  24. Pr 7, 3-4. [ ]
  25. Pr 7, 3-4. [ ]
  26. Cf. Petrus Bonus: Pretiosa Margarita novella..., Lacinius, Veneti 1546, p. 53. [ ]
  27. Sb 6, 15-17. [ ]
  28. Sb 6, 12. [ ]
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